O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa
Na mente explodem versos
que não saem no papel
Sentimentos tão adversos
difíceis de esconder sob o véu
E nessa luta constante
Entre mente e verbo
De repente, num instante
Surge o poema inconstante
E tem que haver rapidez
para registrá-lo de imediato
Pois seria uma estupidez
perder esta inspiração de fato
E o poeta assim segue
Às vezes a escrever o sentir
Noutras a mentira o persegue
E não há como fugir
Já dizia o grande Pessoa
que o poeta é um fingidor
Pois não é sempre que escoa
a palavra que expressa a dor
O poeta escreve seus versos
e nem sempre neles se espelha
Por motivos controversos
à eles, por vezes, se assemelha
Ianê Mello_______________________________
Afluente
“dá-me sonhos teus para eu brincar”. *
E que não seja mais eu a dizer minhas mãos;
Vem agora tu escrever minha vida,
Regar as minhas mudas de equilíbrio,
Os meus projetos de norte e sul e toda parte,
Para que não haja lacunas entre ser e expressar...
Eu digo certo as coisas dos homens,
E somo de cor as contas quadradas da álgebra,
Mas não domino o plano disforme de contar poesia.
De arrumar palavras sabendo onde cada uma cabe,
De ajeitá-las de modo que possam dar abrigo ao olho,
E que mais longe alcancem seus destinos de dizer.
Ah, vem morar na minha aldeia, acende-me o azul dos dias.
Que tudo meu é cansado de cinza e de ocaso.
Conta-me como se descreve um doer em verso,
Pois nem sempre juntando dor e pena dá poema.
Explica-me como são as alegrias das palavras rimadas,
Ensina-me como ir em curvas por dentro do sentimento,
E ao mesmo tempo ter a mais reta visão de isento.
Ah, permite-me um instante de tua plenitude,
Deixa-me enxergar o viés da alma, o frenesi dos sentidos.
Não quero ser apenas de viver e morrer como faço...
Preciso de tuas escadas para enxergar a altura do mundo,
E tudo que puder ver será meu também e eu serei tudo,
E assim de frente para o seu tamanho inteiro de poeta,
Será como estar diante do espelho, uma fusão de passos.
Só depois disso assim, de ir tão longe como tu escreves,
De ser infinitamente poesia como tu és,
Desça eu as escadas e encontre já um outro de mim,
Com alma suficiente para um mundo inteiro. Ricardo Fabião
(*) O verso entre aspas faz parte do poema "O guardador de rebanhos",
de Fernando Pessoa.
Diálogos Poéticos - Colaboradores : Ianê Mello, Ricardo Fabião
10 comentários:
"Pois não é sempre que escoa
a palavra que expressa a dor..."
Às vezes fica mesmo retida...
Ianê...
Lindo, seu poema.
Beijos.
Ricardo
Eu ñ sei o q seria de mim sem os poetas.
Na maioria das vezes falam por mim,pois nem sempre a coragem me dá disposição para dizer o q sinto.
Parabéns.
Um beijo grande.
Ricardo,
que bom que gostou.
Não quer "dialogar" comigo?
Te espero.
Beijos.
Oi, menina!
Sei como é essa explosão de palavras e ideias, mas que na hora de colocar no papel, nada sai...
Adoro ler-te...
beijos!
Ava,
obrigada pela visita e comentário.
Beijos.
Perola,
obrigada, querida.
Você sempre é bem vinda.
Grande bj.
muito bom, Ianê, Fabião !
Obrigada, Joe!
Bjs.
Querida Ianê,
também sou fã incondicional de Fernando Pessoa e, por coincidência, ontem também escrevi um pouquinho sobre ele. Ele é vulcânico!!!! Parabéns pelo post. A-do-rei.
Um beijo grande
Marloi,
que bom que compartilhamos esse gosto pelo Pessoa.
Não quer participar do Diálogos.
Se tem e.mail, me dê que lhe mando um convite e vc será um adas colaboradoras.
Se aceitar, poste essa poesia sua do Pessoa aqui, junto dessa,para fazermos um diálogo poético ok?
Um beijo grande.
Postar um comentário