O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Liberdade




Acordo (ainda é noite) na escureza
Do quarto e vou às cegas procurando
A maçaneta, no tempo quando
Numa barra de ferro acerto a testa.

Com sono, dolorido, sem contexto,
Caio, bunda no chão, imaginando
Que diabos uma grade atravessando
Faz o meu quarto, como eu fosse preso.

Procuro o interruptor; e quando o encontro
Aperto-o e luzes vêm de todo canto.
’Stou dentro de uma jaula, qual cobaia.

Fora, a me cingir, há três homens brancos,
Sem faces, ansiosos, como santos,
’Sperando que a Loucura de mim saia.

RODRIGO DELLA SANTINA

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Dialogo Poético : Ianê Mello e Beto Palaio





A ESCOLHA DE ALICE

Alice, Alice, Alice
dorme em teu sono
de menina
em tua inocência
sobrevivem teus desejos

Alice, Alice, Alice
o mundo é obscuro
cheio de perigos
portas ocultas
fantasmas do medo

Alice, Alice, Alice
guarda teu segredo
nesses olhos de sonhar
teu encanto nesse canto
que te embala ao dormir

Alice, Alice, Alice
no mundo real não há lugar
para o Chapeleiro Maluco
para a Lagarta Azul
para o Coelho Branco

Alice, acorda e escuta
depois volta adormecer
se assim preferir, linda menina

Aqui tem Rainha de Copas...
corre Alice, corre!!!!


Ianê Mello


ALICE EM TUDO


Alice nos prados
flor que ri de tudo
cor no perfume
perfume na cor

Riacho-alice
corredeira-alice
queda d´água-alice

Alice no céu
nuvem que tudo vê
a Terra tão longe
o longe tão Terra

Granito-alice
moinho-alice
farinha-alice

Alice no espelho
aluna das miragens
tão rebelde ao novo
ao novo tão submissa

Papel-alice
tinteiro-alice
palavra-alice


BETO PALAIO

*

Ilustração de autoria desconhecida

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Dialogo Poético: Eduardo Ramos e Ianê Mello




MARIA

quem olha Maria
tua imagem semi-oculta
não sabe da dor
não sabe da cor animal
das tuas entranhas...

olho teus olhos sangrando
sem lágrimas humanas
sequer de solidão
para chorar...

olho teu corpo lindo
que pensaste te dar todo o gozo
todo o céu
todo o amor
que buscas em tanto desespero...

olho para ti Maria
a pedra imensa que carregas
as perguntas irrespondíveis
as respostas sem nexo...

ah!... Maria!...
Maria linda
Maria nua
Maria crua
Maria de todos os nomes
todas as dores
todas as cores...

Maria em que explodem tantas e tantas sensações...

deita teu regaço em meu colo,
Maria...
chora teu choro em meus braços de amor!

Deixa, Maria!...
deixa eu inundar tua vida
do que sonhas
do que buscas
do que sabes cessar toda a dor...

Deixa eu cometer o amor
em ti,
Maria....


Eduardo Ramos

( 24-08-2012)


SIMPLESMENTE MARIA

Maria, teu nome é doce
lânguido teu corpo
 aveludado e alvo

Maria  virgem
Virgem Maria

Maria de ninguém

Maria das Dores
de todas as dores
... do mundo
Maria de amores

Maria Auxiliadora
de largo regaço
de mãos que acalentam
mãos curadoras

Maria poço profundo
útero de mãe parideira
Maria a primeira,
única e insubstituível

Maria, esposa e mãe
Maria fonte fecunda

Maria só
Maria vadia

Maria
imensa solidão
em noites longas
na cama vazia

Maria ternura
Maria poesia

Maria
simplesmente Maria.


Ianê Mello


(24.08.12)


*Pintura de Salvador Dali.

Dialogo Poético: Beto Palaio e Ianê Mello





O DESPOTISMO


Mãos do amor em ausência
cirrose clandestina de afetos
fatos que semeiam discórdias
medo de perder, já perdendo.

Distorcido o real
que no imaginário se perde
tecendo tramas e urdiduras
alimentando dissabores vãos.

Rogos que se apagam em sigilo
O destino em peregrinar extremo
cisnes domesticados na jaula
Narciso na tirania do espelho.

Serpente enrodilhada a espreita
preparando o bote fatal
e a vítima sequer suspeita
desse veneno mortal


BETO PALAIO E IANÊ MELLO

*

Pintura de Pablo Picasso “Minotaure”

Dialogo Poético : Beto Palaio e Ianê Mello





VOCÊ NÓS DOIS


Você nós dois
parceiros na vida
uníssonos no verbo
cutucamos feridas
dos mendigantes
de um afeto barato
de noites insones.

Você nós dois
pessoas felizes
quase insuportáveis
ingênuos e alegres
bastante intragáveis
aliás, estraga prazeres
dos tais descontentes.

Você nós dois
inquietudes no olhar
mãos de acalento
vislumbres de ser
inesgotáveis sentires
na distância tão sentida
danças de sonhos
amantes possíveis.

Você nós dois
tomados pelas palavras
almas destorturadas
indo sempre em frente
florescentes como Ravel
em seu Bolero contínuo
esperançosos por sermos
felizes, apenas felizes.


IANÊ MELLO E BETO PALAIO

*

Pintura de D. Hurd.

Dialogo Poético : Beto Palaio e Ianê Mello




SE NÃO POSSO MAIS CANTAR

Se não posso mais cantar
de que vale o céu azul
e o sol sempre a brilhar?
de que serve o pulsar do coração
e as noites de ameno luar?

Se não posso mais cantar
de que vale esse olhar infindo
e as mãos soltas no ar?
de que serve o intenso sentir
e as estrelas a cintilar?

Se não posso mais cantar
de que vale as conchas vidradas
e o mar viveiro de vagas?
de que vale os sonhos de verão
nos compassos da melodia que se apaga?

Se não posso mais cantar
de que vale o sorriso perdido
e a onda a beijar meus pés?
de que vale a primavera
em flores despetaladas ao chão?

Se não posso mais cantar
de que vale a canção no jogral dos rios
e o assoviar das areias nas dunas?
de que vale as doces horas
da rosa que se abre em pétalas?
de que vale o rio sem mar
se eu não posso mais cantar?


BETO PALAIO E IANÊ MELLO

*
  Pintura de Felix Mas

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Dialogo Poético: Beto Palaio e Ianê Mello





AMOR, SEMPRE O AMOR


Viver dançar amar: ou um ramo da solidão a dois, ou um incesto de amor dolorido, ou sonhos de um tango doce e rasgado...

Amor que arde nas entranhas
amor cavalgado em noites sem dormir
amor colorido em arrebóis
amor desbravado entre os lençóis

Desleixo desejos arrepios: ou um estremecimento ardente, ou um suspirar em entregas, ou um arremate em gozo...

Arrepios em pelos fartos
adocicados sabores
gotejares úmidos
fluidos em sentires

Amor finito apaixonado: ou o final de um ato sagrado, ou a paz de guerreiros insanos, ou o inicio de um recomeço...

Urdiduras em teias
emaranhados em nós
tecituras amanhecidas
em auroras douradas de sóis

Lágrima paixão dor: ou respingos de néctar sorvido, ou regato de lágrimas no anseio, ou ponta de plenitude no estio...

Nevascas intempestivas
em cruezas de dúvidas esquecidas
resgates em mar bravio
corpos ilhados no azul

Romance paz languidez: ou desejos plenamente atendidos, ou sono que enrodilha e cega, ou despertar de corpos enlaçados...

Na manhã que descortina
prazeres saciados
em nesgas de sol por entre as frestas
nas paredes do quarto amarelecidas

Confissão despropósito recomeço: ou o duplo criador enrodilhado, ou as mãos que descansam na procura, ou o despertar insaciável da véspera...

Zen, bem, meditativo êxtase
silêncios improrrogáveis
em palavras que despertam
no amor que explode em versos


Beto Palaio e Ianê Mello


*
Pintura de Wladimir Kush


sábado, 18 de agosto de 2012

Dialogo Poético : Beto Palaio e Ianê Mello




EU EM SEUS BRAÇOS


Desapareço em seus braços
que se tornam estradas
silenciosos caminhos do amor

Num terno abraço me acalenta
sonhos que adormecem
enquanto a noite tece sua teia

Cavalgamos a colher amoras
beijos de veludos rubros
desejos tintos de vinho

Inebriados sentidos despertos
o amor que se assenta em delícias
perdidos um no outro adormecemos


Beto Palaio e Ianê Mello

*

Pintura de Toulouse Lautrec  “In bed the Kiss”

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Dialogo Poético : Ianê Mello e Hildebrando Menezes




AMÁLGAMA


Num dialeto inventado
em palavras vacilantes
O ato se fez encantado
Sublime sussurro pulsante

Murmúrios de amor

Nela ele se perdia
e nela se reencontrava
A veia reacendia
O que tanto procurava

Em rasgos de ternura abrandados

O contato amalgamava
Em nesgas de paixões acalentadas
Dois seres vibravam
Almas apaixonadas

Em vícios e venenos que embriagam

Nela ele se afogava
Nada os separava
Em braços e pernas
Tudo os interligava

Pele e pelos

Em cheiros de almíscares e jasmim
Doçuras e delícias
Eu e você... Assim!
Em suores e carícias

Quando a noite invadia a tarde

Sonhos e desejos satisfeitos
Até perder-se de si mesmo
Dois seres plenos e repletos
Amalgamados a esmo

Até não ter mais juízo

Até liquefazer-se de amor
Fusos e difusos
Na fusão dos corpos úmidos
Só a ternura mais profusa

No calor que abrasa e queima

Na vida que nasce e morre
Na profusão das chamas
Tórrida paixão que inflama
Fenece, eleva, transparece

e novamente renasce.


Duo: Ianê Mello e Hildebrando Menezes


*

Pintura de autoria desconhecida

domingo, 12 de agosto de 2012

Trovoada



Como é triste o retumbar das vozes
Que num círculo mudo
Silencia
As próprias pegadas

RODRIGO DELLA SANTINA

sábado, 11 de agosto de 2012

Dialogo Poético: Beto Palaio e Ianê Mello




DECLARAÇÃO À MEU PAI



Óbvio, puramente óbvio
óbvio como as pupilas habitam os olhos
ou como os dedos são hospedes das mãos
óbvio que gostaria de falar contigo
num abrir e fechar de portas
mesmo sem te encontrar de fato
óbvio que te procuro imensamente
neste corredor discursivo, a vida
por onde desfilam todas as coisas
onde tudo gira tão alegremente
neste carrossel de fatos constantes
mas que um dia desafiarão o existir
pai, aqui quero te reencontrar

Simples, extremamente simples
um querer que ultrapassa o tempo
onde vida e morte são um mero detalhe
uma saudade apertada contra o peito
de um abraço sincero e do calor de suas mãos...macias
simples assim, esse amor infinito de doer que cala a fala que emudece a boca que transpassa o sentidos
onde tudo o que era luz escuro se torna
onde tudo em que era brilho escureceu feito noite sem lua
nessa terra de ninguém onde você importa
quando dois braços fortes te enlaçam com ternura
pai, sigo sempre a sua procura

Dor, imensamente dor
doía um sono em teus olhos
dessa dor que em nós é viagem
eu estava tão distante de ti
no tudo que nos habita
num tumultuado dia comum
o tudo me quedou extravagante
o sol que insistia em habitar a pele
mais que num dia comum
quando a água já não sacia a sede
e o correr das horas nos carrega
nos braços de uma eternidade fria
neste dia quis te dizer algo
um detalhe apenas, tão ínfimo
mas que não disse, nem deu tempo
disso que na despedida é oculto
em separar o que pensamos sem fim.

Amor, só  esse sentir me restou
do triste adeus de tua partida
em meus olhos marejados sem sequer a despedida
no despedaçar lento em meu peito ancorado
tu eras meu porto seguro, eu tua princesa encantada
que numa redoma de vidro guardavas com zelo
amor, sim, amor, era o que sentias ao fazê-lo, bem sei
para manter-me junto a ti, meu rei
filha amada até o fim de teus dias
agora jaz a perda na saudade ingrata
que inda teima em latejar, ferida entreaberta
tu eras meu precioso tesouro e eu não sabia
o que tua ausência resgata em mim
enquanto de mim mesma me perdia
e me reequilíbrio na corda bamba
na vida da qual me resguardavas por amar demais



Beto Palaio e Ianê Mello


Pai - Fabio Jr.

Diálogo Poético : Flavcast, Paula Amaro e Ianê Mello




Os poemas do beco

Existe um poema perdido
no beco
Acuado 
Como angustia presa
ao peito
Vencido feito amor
Bandido

Sempre há poemas escritos
no beco
Esquecidos
Deixados pairados no ar
Enamorados
Soltos sussurros
E beijos

Há poemas que moram
no beco
Enraizados
Sabedores dos seus limites
Segredos
Poemas de amor
Não entregues.

(FlaVcast – 10.08.2012)



Poema de beco,
poema vadio
sem tino, sem berço,
à chuva e ao frio.
Poema nosso
feito vagabundo
às vezes, gentil moço...
Poema do Mundo.

Paula Amaro


POEMA VADIO


Poema de amor
amor comedido
amor não confesso
amor escondido
...
nas entrelinhas
...

poema cativo
sem eira, nem beira
poema transverso
enredado em sentires

...

poema passarinho
solto no ar
a voejar no vento
liberto

...

poema perdido
no beijo não dado
no olhar desviado
no sentir que não se mostra
...

Ah... poema vadio
me mostra seu rosto
me envolve em versos
me cobre de palavras
me preenche de sentires
me toma inteira!

Poema em mim...
me faz amor

Poema vadio...
me faz amar.


Ianê Mello

 
Pintura de Johnny Palacios Hidalgo




sexta-feira, 10 de agosto de 2012

VOCÊ, DONA DA POESIA ( poema-homenagem por Beto Palaio)





Você possui
céus profundos
infinitas horas
lembranças inventadas

Você possui
rosa dos ventos
poesia que autoriza
viagens imaginadas

Você possui
chão que pisas
pedras que volteiam
águas misteriosas

Você possui
passos discretos
passagens proibidas
desejos inadiados


(Para Ianê Mello)


BETO PALAIO


(foto de Brent Lambert)

Diálogo Poético: Beto Palaio e Ianê Mello




LOAS PARA A BREVIDADE


Breve encontro
afastei-me da razão

Breve encontro
entreguei-me sem pensar

Breve encontro
tatuei-me em miragens

Breve encontro
hospedei-me noutros corpos

Breve encontro
és ardente enquanto duras

Breve encontro
és poesia nas entrelinhas

Breve encontro
minha sorte em suas mãos

Breve encontro
meus anseios entre seus dedos

Breve encontro
insensível em meus planos

Breve encontro
caminhos de mal traçadas linhas

Breve encontro
Teu final é sempre inadiável

Breve encontro
sentimentos encobertos

Breve encontro
por acaso... Lembra-se de mim?


BETO PALAIO E IANÊ MELLO

(07.08.2012)


*
Fotografia de 
Julie de Waroquier

Dialogo Poético: Beto Palaio e Ianê Mello




ROGATIVAS PARA O DEUS AMOR





Amor,
toca-me com sua beleza

Amor,
toca-me com suas miragens

Amor,
toca-me com sua mágica

Amor,
toca-me com seu fulgor

Amor,
toca-me com seus delitos

Amor,
toca-me com suas tormentas

Amor,
toca-me com sua inocência

Amor,
toca-me com sua singeleza

Amor,
toca-me com seus pecados

Amor,
toca-me com seus enredos

Amor,
toca-me com sua salvação

Amor,
toca-me com sua perdição

Amor,
toca-me com seus êxtases

Amor,
toca-me com seus frutos

Amor,
toca-me com suas travessuras

Amor,
toca-me com suas gostosuras

Amor,
toca-me com seus devaneios

Amor,
toca-me com seus anseios

Amor,
toca-me com seus remansos

Amor,
toca-me com seus perfumes

Amor,
toca-me com sua entrega

Amor,
toca-me com seu gôzo


BETO PALAIO E IANÊ MELLO


(07.08.2012)

*

Pintura de Rene Magritte.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Aforismos Beto Palaio e Ianê Mello



AFORISMOS CRIADOS COM ONDAS



Quando as ondas vencem sem perigo, elas triunfam sem glória.

Onda vai, onda vem, no marasmo a vida não anda, se afoga.

Três virtudes de louvores: o céu quando venta, o mar quando dança e o homem quando poetisa.

Nadar contra a corrente torna maior o esforço .

Às ondas competem os atos repetitivos de existirem unicamente para a fama do mar.

Sabedoria é aproveitar enquanto a maré está cheia.

Docemente, porém sufocadas, as ondas gritam seus anseios de morrerem sozinhas na praia.

As ondas podem nos levar se a vontade de nadar é fraca.

É nobre conquista também aos olhos que se fecham, sensação que se guarda, ruído das ondas.

As ondas são como lágrimas que saltam dos olhos do mar.

Ai de nós! As ondas fogem rápidas e os anos muito mais rápidos ainda.

A cólera é uma loucura passageira que se apossa por vezes até das ondas do mar.


BETO PALAIO E IANÊ MELLO

(09.08.2012)

*

Arte de Julie de Waroquier.

Dialogo Poético : Ianê Mello e Beto Palaio




POEMA DO VIVER


Quando me vejo assim meio sem jeito
cheia de dedos e de dados
a vida num jogo apostado
um jogo pra ser bem jogado

e eu, ali, mãos indecisas
a tatear nas sombras
em pernas que tropeçam
chão de pedras
pés descalços

quando me vejo assim meio sem graça
sem viver a vida
apenas de passagem
moça, na janela
em viagem

meus lábios repetem em uníssono
as canções de distâncias volúveis
porém imorredouras

Olho para mim mesma e digo:
-Purifica seus enganos, moça!
Cala a vida que te soluça!
Fecha teu diário de folhas rasas
e imita o sol que suga das flores
o mais secreto perfume
o desejo sincero de viver


Ianê Mello e Beto Palaio

*
Foto de Julie de Waroquier




terça-feira, 7 de agosto de 2012

Dialogo Poético : Ianê Mello e Paulo Ras




SIMETRIA AMOROSA


Onde eu começo e você termina?
você e eu
que somos um

corpos mesclados, fundidos
num só corpo que se alimenta
da suave delicadeza do amor

meu rosto, seu rosto
geminados num único olhar
perdidos em nossos olhos

meus braços, seus braços
extensão dos seus
na grandeza de nossos gestos

sua boca, minha boca
no prolongamento de um beijo
desdobrado em paixão

suas pernas, minhas pernas
entrelaçadas no deleite
de se dar sem limites

suas mãos, minhas mãos
no toque de nossos corpos
perdidas em nós

Onde eu começo e você termina?


Ianê Mello


IMPRESSÃO BEIJOQUEIRA  2


A tua língua
A minha boca.
Ou a tua boca e
A minha língua?
Tudo tão entrelaçado.
Tudo tão promíscuo em nossos corpos.
Tudo tão perdido em nossas vidas.
Tão emaranhado.
Tão confuso.
Tão uno que ao menos sabemos
De quem é a língua.
De quem é a boca.




*
Pintura de 
Yarek GODFREY

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

AFORISMOS CRIADOS COM DOUTRINA: Beto Palaio e Ianê Mello




AFORISMOS CRIADOS COM DOUTRINA



A doutrina é um rugir de explicações para ouvidos humildes e surdos.

A doutrina é um desfolhar de conceitos que esvoaçam no outono.

A doutrina é quase um Domingo em comparação com a Segunda-feira de uma palavra vazia.

A doutrina, palavra santa, santificada por seus pares.

A doutrina é o sêmen do irrevelado.

A doutrina é o esgar do sorriso encarnado.

A doutrina sobe a escadaria dos vivos enquanto a convenção abraça os mortos.

A doutrina embota os sentidos, cega a visão.

A doutrina é uma menina enferma recebendo transfusão do sangue de Hercules.

A doutrina bebe o sangue dos puros de alma.

A doutrina é andorinha sem ninho a revoar tardes belas, porém inexistentes.

A doutrina embriaga os sóbrios desavisados.

A doutrina é precária e correta, é estranha, é calmante, é dolorosa, é revolucionária, é profunda, é fiel, é mentirosa. Ela é, por fim, desnecessária.

A doutrina adormece mentes sãs e inquietas.

A doutrina é barco efêmero navegando ventanias de um mar extremamente revolto.


BETO PALAIO E IANÊ MELLO



*
Foto de Shirin Neshat "The Book of Kings".

AFORISMOS CRIADOS COM PRUDÊNCIA: IANÊ MELLO E BETO PALAIO





AFORISMOS CRIADOS COM PRUDÊNCIA


A prudência aplaca o fogo no coração dos intempestivos.

A prudência é imensa como Júpiter, mas se oculta nos nossos atos morais tal como um pequenino grão de areia.

Pela prudência se conhece quem valoriza a própria sorte.

Nunca se deve tomar uma decisão grave sem antes consultar a prudência.


A prudência governa a mente dos cautelosos.

Às musas agradam as prudências ilimitadas, aos homens agradam as prudências alternadas.

Ao fraudulento ato que enfeitiça eis que surge a prudência que atiça. 


A prudência persegue em vão os insensatos.


A prudência nunca se cansa de remar, inclusive, mesmo que seu navio de costumes afunde no oceano trevoso, ela surge à jogar bóias e a clamar pelo salva-vidas.

A prudência é moça flor, prêmio de perfumes que ao passar fica logo sendo sua amiga.

Prudência, alma velha, sempre pronta a iluminar a destemperança dos aflitos.

A prudência é remédio antigo, deixe-a agir no caso de um pecado, um prurido ou um desleixo da alma.

Quando nos perdemos da prudência, ela sempre acha o caminho de casa se guiando pelos lamentos de nosso arrependimento.


IANÊ MELLO E BETO PALAIO

(02.08.2012)


domingo, 5 de agosto de 2012

Dialogo Poético: Beto Palaio e Ianê Mello





CAMA NA VARANDA


Num momento oportuno
a cama na varanda
em contraste com duas luas
olhares nascentes e poentes
caminhos em que nos perdemos.

E a tenra carne que estremece
no contado leve e sutil
desvanece a crueza da dúvida
enlaça sonhos de convivência
estreita rios de bem querer.

A vida é apenas um fósforo
ferve os amantes em desassossego
duras mãos que lançam seixos
são as mesmas que deram carícias
retalhos existindo em brigas e perdões

Nesse enlevo ao relento
o infinito do céu ao luar
corpos entrelaçados em ternura
encontros de amores amantes
nós dois somos um país.


Beto Palaio e Ianê Mello

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Dialogo Poético : Beto Palaio e Ianê Mello




PECADOS ARDENTES (COM COPPERTONE)

Hoje dias inteiros
seus pés, braços e rosto
admiro seu flanco bronzeado
com o fogo da paixão aceso
como um cão da Coppertone
mordo-te em reflexo
vis-a-vis com o pecado.

Entre o côncavo e o convexo
tesouros escondidos
nexus, plexus e sexus
arrebóis despudorados
santificados desejos
com gotas de Coppertone.

Findo que sou infindo
como no avesso do espelho
desmanchando-me insone
todo coração me enfeitiça
em seu corpo abrigado
pela cor do Coppertone
pás-de-deux no amor perdido.

Do damasco quero o doce
inebriantes sentires
adocicados pudores
na flor menina que desabrocha
perfumes de Coppertone
almiscarados fetiches.


BETO PALAIO E IANÊ MELLO


*
(Pintura: Pierre Joubert)

Dialogo Poético: Beto Palaio e Ianê Mello




SONHOS DE ÍCARO



Frágil
Teia de nuvem
Gaze de amor
Céu de ir embora

Tênue
Febre terçã
Tecelã em fios
Ariadne no labirinto

Passeio
Em seu corpo
Cristalino querer
Lembrança de nós

Vertente
Fluídicas águas
Querer desmedido
Arremedos de paixão

Reflexos
Lírios da lua
Brancas manhãs
Camas de orvalho

Auroras
Arrebóis incandescentes
Primaveris entardeceres
Ardentes sentires


Beto Palaio e Ianê Mello


 *

Pintura de Marc Chagal

Dialogo Poético : ELIZABETH BISHOP e Ianê Mello

Diálogo poético: Luis Lima e Ianê Mello




“””””””
De volta dominado à escolta da tua teia
Através dela estou em ti grudado como a mesma energia da seiva do afecto que nos comunica, veia-a-veia

“””””””
""""(luis lima)


Veia- a-veia
num pulsar em uníssono
almas interligadas
amor a espraiar-se...
liberto e cativo. 

Ianê Mello


Diálogo Poético: Adelia Prado e Ianê Mello






O SONHO


O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.

ADÉLIA PRADO



ConVersando com a querida Adelia Prado.



Sigo sonhando sonhos
amores enternecidos
sem abandonos
asas de pássaro branco
num abela manhã de outono.

Ianê Mello


(Pintura: Phyllis Barnard)

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