O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




ARTIGOS


1. Geração Beat



‎"Em meio à prosperidade econômica dos Estados Unidos da década de 50, e na contracorrente do otimismo delirante da classe média frente às novas possibilidades de conforto pessoal, surge essa que é a primeira manifestação consistente da crise que estava latente na América do pós-guerra. Conhecida posteriormente como Geração Beatnik, sua importância é enorme pelo fato de ser o primeiro movimento de contra-cultura a surgir nos Estados Unidos, com forte impacto histórico e cultural. "

Leia mais...


ALGUNS DOS BEATS








JACK KEROUAC





De início não era aceito pela crítica, mas obteve reconhecimento ainda em vida.
Sua obra-prima foi  “On The Road”, livro que seria consagrado mais tarde como a “bíblia hippie”. Esse livro foi escrito durante sua viagem pela rota 66, nos EUA, em apenas três semanas, sendo o personagem principal seu alter-ego. 
On The Road, apresentava uma alternativa ao modo de vida tradicional e propunha um rompimento com ele, que na visão dos beats, deveria ser feito através da entrega completa a uma vida marginalizada e romântica, que incluía viagens pelo Oeste americano e a busca por uma nova maneira de compreender a vida através de um misticismo não muito definido. Essa nova moral é expressa no romance por uma modificação em termos de conteúdo.
Escrevia com uma máquina de escrever, em folhas de papel manteiga recortadas e coladas com fita para não precisar ficar trocando de folha a todo momento. Redigia de forma ininterrupta, invariavelmente sem a preocupação de cadenciar o fluxo de palavras com parágrafos.



Citações


‎"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam."

"Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas pra viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas."

"Nossa bagagem maltratada fora empilhada na calçada novamente; nós tínhamos mais caminhos para percorrer. Mas não importa, a estrada é a vida."

"A humanidade se assemelha aos cães, não aos deuses — se você não ficar zangado eles vão lhe morder – mas fique bravo e você nunca será mordido. Os cães não respeitam humildade e tristeza."


Alguns haikais

  
A chuva pesada
afunda-se no mar
Inútil, inútil.

*

Um imenso floco
de neve
Que desce sozinho.

*

Meio-dia,
as portas da garagem
Crescem sobre os cadeados
    
*
No meu armário de remédios
a mosca de inverno
esta morta de velhice.
*
Aqueles pássaros empoleirados
sobre aquela paliçada
foram todos morrer.
*

Se agita contra 
o muro, as flores 
Espirram
  
Traduzido por Anderson Fonseca

JACK KEROUAC nasceu em 1922, em Lowell (Massachusetts) e morreu em 1969, em St. Petersburg (Flórida). Foi um dos ícones da geração beat, juntamente com Allen Ginsberg. Tornou-se conhecido pelo romance On the Road, no entanto rapidamente sofreu críticas, bem como os demais beats, pela proposta alternativa de uma literatura e de uma vida à margem das convenções. Dedicou-se durante um tempo ao estudo do Budismo e da cultura oriental, que influenciaram muito seu pensamento. Os haikais publicados aqui foram traduzidos do livro Jack Keroauc Poèmes, publicado em Paris em 1976.





In Confraria do vento  
http://www.confrariadovento.com/revista/numero24/poesia01.htm



ALLEN GINSBERG


Allen Ginsberg (1926-1997) foi o grande rebelde romântico da segunda metade do século XX. O maior dos poetas-anarquistas contemporâneos. Promoveu, em parceria com Kerouac, Burroughs, Corso, Ferlinghetti, Snyder e outros, uma revolução na linguagem e nos valores literários que se transformou em rebelião coletiva, na série de acontecimentos - agora, com a perspectiva, a distância de várias décadas, é possível fazer uma afirmação dessas - mais revolucionários do período: o ciclo da geração Beat na década de cinqüenta, e da contracultura e rebeliões juvenis nos anos sessenta e setenta. Inegavelmente, conseqüência do impacto provocado pelo lançamento de Uivo e outros poemas em 1956, e, logo em seguida, de On the Road (Pé na Estrada) de Kerouac, e de Kaddish e outros poemas, do próprio Ginsberg. Tais obras, expressões da liberdade de criação, romperam com o beletrismo conservador, o exacerbado formalismo que dominava a criação poética e o ambiente acadêmico, e com seu correlato, o bom-mocismo da sociedade.


Citações e Poemas 


"Arte é ilusão, pois eu não ajo
Fico ou Parto - com constante alegria
Meus pensamentos, embora céticos, são sagrados
Santa prece para o conhecimento ou puro fato.

Então enceno a esperança de que posso criar
Um mundo vivo em torno de meus olhos mortais
Um triste paraíso é o que imito
E anjos caídos cujas asas perdidas são suspiros.

Neste estado não mundano em que me movimento 
Minha Fe e Esperança são diabólica moeda corrente
Em mundos falsificados, cunho pequenos donativos
Em torno de mim, e troco minha alma por amor."


"Quem quer que controle a mídia, as imagens, controla a cultura."


"Poema de amor sobre um tema de Whitman


Entrarei silencioso no quarto de dormir e me deitarei
entre noivo e noiva,
esses corpos caídos do céu esperando nus em sobressalto,
braços pousados sobre os olhos na escuridão,
afundarei minha cara em seus ombros e seios, respirarei tua pele
e acariciarei e beijarei a nuca e a boca e mostrarei seu traseiro,
pernas erguidas e dobradas para receber,
caralho atormentado na escuridão, atacando,
levantado do buraco até a cabeça pulsante,
corpos entrelaçados nus e trémulos,
coxas quentes e nádegas enfiadas uma na outra
e os olhos, olhos cintilando encantadores, 
abrindo-se em olhares e abandono,
e os gemidos do movimento, vozes, mãos no ar, mãos entre as coxas,
mãos, na humidade de macios quadris, palpitante contracção de ventres
até que o branco venha jorrar no turbilhão dos lençóis
e a noiva grite pedindo perdão
e o noivo se cubra de lágrimas de paixão e compaixão
e eu me erga da cama saciado de últimos gestos íntimos
e beijos de adeus –
tudo isso antes que a mente desperte,
atrás das cortinas e portas fechadas da casa escurecida
cujos habitantes perambulam insatisfeitos pela noite,
fantasmas desnudos buscando-se no silêncio."



"CANÇÃO

O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação

o peso
o peso que carregamos
é o amor.

Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano —

sai para fora do coração
ardendo de pureza —
pois o fardo da vida
é o amor,

mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.

Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor —
esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
— não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contido
quando negado:
o peso é demasiado

— deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.

Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro da carne,
a pele treme na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho —

sim, sim,
é isso o que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar ao corpo
em que nasci."


Leia mais ...



WILLIAM BURROUGHS



Porém, o mais importante experimentador a geração beat foi William Burroughs, cuja literatura se relaciona mais diretamente aos métodos derivados das colagens cubistas e procedimentos dadaístas e surrealistas. Recortava algum manuscrito seu já pronto, e dividindo em parágrafos, embaralhava toda seqüência da trama. Outro prodedimento era recortar passagens e frases de diversas fontes diferentes, como versículos da bíblia, reportagens de jornais, comerciais de revistas, passagens de Shakespeare ou diálogos de um filme. A seguir ele  fazia alguns enxertos com essas passagens em seus textos e reescrevia o resultado. Aplicando esses métodos, Burroughs concebeu suas obras mais   importantes, como “Almoço nu” (1959), “A máquina mole” (1961), “O bilhete que explodiu” (1962), e “O expresso Nova” (1964).
O experimentalismo de Burroughs, porém, não se limita puramente a novos métodos formais, envolvia também uma busca por “novos estados de consciência”, através do uso de diversos entorpecentes. Referia-se a seu vício em heroína, como um “experimento” que ele realizava. Os temas de seus romances, como uso de drogas, o submundo marginal das grandes cidades, violência urbana, experiências homossexuais e a ampliação da consciência através de formas não discursivas causaram grande escândalo na época. Sua intenção, finalmente, era romper com os sistemas dominantes de linguagem.
"A linguagem é um vírus". Nesta frase-chave e em toda sua obra, Burroughs sintetiza nossa condição, de explosão virótica e paranóias extraterrestres, de internets, massificação pela propaganda, clonagens e de bombardeio diário de informações pela mídia. Se o vício aparece como metáfora "nua e crua" para os males da sociedade de consumo, é com a do vírus que Burroughs descortina nossa agoridade espetacular. O problema é que para Burroughs não há cura para este vírus: trata-se da própria consciência humana, programada para funcionar como um mecanismo virótico. Ao se reproduzir em cópias de si mesma, inoculando comandos contraditórios, o parasita age naquilo que é a diferença do ser humano dos outros animais: a linguagem.



Citações


"Depois de uma olhada neste planeta, qualquer visitante do espaço exterior diria''Eu quero ver o gerente.''

"Como todas as criaturas puras, os gatos são práticos".

"Seu conhecimento do que está acontecendo só pode ser superficial e relativa."

"Em profunda tristeza, não há lugar para sentimentalismos."

"A virtude é simplesmente a felicidade e a felicidade é um subproduto da função. Você é feliz quando está funcionando ".



Leia mais...

 O Barco Bêbado


2. RAUL SEIXAS



Breve Biografia

  Raul Santos Seixas nasceu em 28/6/1945, em Salvador, Bahia, e desde criança foi uma pessoa inquieta, inteligente e tímida. Adorava ler, criar personagens e fazer histórias em quadrinhos. Mais foi na adolescência que despertou para o Rock"Roll.
Nessa época muitos americanos iam a Bahia para farrear, o que muito influenciou os jovens em seu estilo de vestir e em sua música, pois levaram com eles muitos discos de rock.  Raul foi muito influenciado por Fats Domino, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e principalmente pelo seu grande ídolo Elvis Presley.
Ele morava perto do consulado norte-americano, o que lhe permitiu ter acesso a cultura e a língua americanas.
A sua vida foi curta devido ao seu envolvimento com drogas e bebidas alcoólicas, falecendo no dia 21 de agosto de 1989. 


                        


Leiam a biografia completa, incluindo a discografia de Raul Seixas.




FRASES DE RAUL 


"Somos prisioneiros da vida e temos que suportá-la até que o último viaduto nos invada pela boca adentro e viaje eternamente em nossos corpos."

"Sim, curvo-me ante a beleza de ser
às vezes zombo de mim mesmo ao término de uma 
inteligente e aguçada constatação.
Ermitão do insólito, poeta da dúvida
Entretanto duvido a dúvida por ser dúvida
fruto de uma premissa lógica 
Mas nego, afirmo e não duvido de nada
Prisioneiro sem grade desse silêncio eterno"

"A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal."

"Quero a certeza dos loucos que brilham. Pois se o louco persistir na sua loucura, acabará sábio."

"Eu perdí o meu medo, o meu medo da chuva
Pois a chuva voltando prá terra traz coisas do ar.
Apendí o segredo,o segredo da vida
Vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar..."

"Sou o que sou 
porque vivo da minha maneira...
Você procurando respostas olhando pro espaço,
e eu tão ocupado vivendo...
Eu não me pergunto,
Eu faço!"

" A saudade é um parafuso
que quando a rosca cai
só entra se for torcendo
porque batendo não vai.
Mas quando enferruja dentro
nem distorcendo não sai."

" A maioria de nós passa a vida inteira poupando felicidade, tão preocupados em não morrer que acabamos por não viver. Passamos a vida como lagartas rastejantes por medo da metamorfose e do desconhecido; e assim apodrecemos sem termos tido um único momento como borboleta. Se tememos a morte é apenas por não termos vivido. Na verdade morrer sem ter vivido é o único pecado que existe."


Raul Seixas

                   



3. JORGE LUIS BORGES





BREVE BIOGRAFIA 


                   


O escritor Jorge Luis Borges nasceu na capital argentina, Buenos Aires. Bilíngüe desde a sua infância, aprendeu a ler em inglês antes que em castelhano, por influência de sua avó materna de origem inglesa.
Aos seis anos disse a seu pai que queria ser escritor e aos sete escreveu, em inglês, um resumo de literatura grega. Aos oito, inspirado num episódio de "Dom Quixote" de Cervantes, fez seu primeiro conto: "La Visera Fatal". Aos nove anos, traduziu do inglês "O Príncipe Feliz" de Oscar Wilde.
Em 1923 publicou seu primeiro livro de poemas, Fervor de Buenos Aires. Desde essa época, adoece dos olhos, sofre sucessivas operações de cataratas e perde quase por completo a vista em 1955. Tempos depois se referiria à sua cegueira como "um lento crepúsculo que já dura mais de meio século".
Borges faleceu em Genebra no dia 14 de junho de 1986.


Leiam mais em :



               


POEMAS 


O Suicida

Não restará na noite uma só estrela. 
Não restará a noite. 
Morrerei e comigo irá a soma 
Do intolerável universo. 
Apagarei medalhas e pirâmides, 
Os continentes e os rostos. 
Apagarei a acumulação do passado. 
Farei da história pó, do pó o pó. 
Estou a olhar o último poente. 
Oiço o último pássaro. 
Lego o nada a ninguém. 

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"


Não és os Outros

Não há-de te salvar o que deixaram 
Escrito aqueles que o teu medo implora; 
Não és os outros e encontras-te agora 
No meio do labirinto que tramaram 
Teus passos. Não te salva a agonia 
De Jesus ou de Sócrates ou o forte 
Siddharta de ouro que aceitou a morte 
Naquele jardim, ao declinar o dia. 
Também é pó cada palavra escrita 
Por tua mão ou o verbo pronunciado 
Pela boca. Não há pena no Fado 
E a noite de Deus é infinita. 
Tua matéria é o tempo, o incessante 
Tempo. E és cada solitário instante. 

Jorge Luis Borges, in "A Moeda de Ferro" 
Tradução de Fernando Pinto do Amaral


EVERNESS

Só uma coisa não há: e esta é o olvido.
Deus, que salva o metal, e salva a escória,
cifra em Sua profética memória
as luas que serão e as que têm sido.
Já tudo fica. A seqüência infinita
de imagens que entre a aurora e o fim do dia
teu rosto nos espelhos deposita
e essas que irá deixando todavia.
E tudo é só uma parte do diverso
cristal desta memória: o universo.
Não têm fim os seus árduos corredores,
e se fecham as portas ao passares;
e só quando na noite penetrares,
do Arquétipo verás os esplendores.

  
UM CEGO

Não sei qual é a face que me mira
quando miro essa face que há no espelho;
e desconheço no reflexo o velho
que o escruta, com silente e exausta ira.
Lento na sombra, com a mão exploro
meus traços invisíveis. Um lampejo
me alcança. O seu cabelo, que entrevejo,
é todo cinza ou é ainda de ouro.
Repito que perdi unicamente
a superfície vã das simples coisas.
Meu consolo é de Milton e é valente,
porém penso nas letras e nas rosas.
Penso que se pudesse ver meu rosto
saberia quem sou neste sol-posto.


SOU

Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada.

Jorge Luis Borges

(contribuição de Kika Carteado)


                  


PENSAMENTOS

"Todos os caminham levam à morte. Perca-se"

"Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti, mas viver sem amor acho impossível."

"Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria."

"O tempo é a substância de que sou feito."

"Fica-se enamorado quando se dá conta de que a outra pessoa é única."

" O que dizemos nem sempre é parecido com o que somos."


               ***************************************************


 4. HERMAN HESSE


                                           

Um pouco sobre ele:

*Hermann Hesse nasceu na Alemanha em 1877, naturalizou-se suíço em 1923 e faleceu em 1962. “O Lobo da Estepe” e “Sidarta” são seus livros mais conhecidos. Viajou para Índia em 1911 e conheceu o budismo, doutrina que, ao lado da psicanálise junguiana, influenciou profundamente sua obra e sua exímia capacidade de desvendar a alma humana. Após escrever o livro “O Jogo das Contas de Vidro”, uma das mais belas e profundas obras na história da literatura mundial, ganhou o Prêmio Goethe e alguns meses depois, o Prêmio Nobel de Literatura em 1946.


                                            

O Lobo da Estepe (no original, Der Steppenwolf) é um livro de Hermann Hesse, publicado em 1927. É considerado o melhor dos livros de Hesse, e um dos romances mais representativos do século XX. No Brasil foi traduzido por Ivo Barroso e publicado pela Editora Record em 1993.


Enredo
O livro conta a história de Harry Haller, um outsider, um misantropo de cinqüenta anos,alcoólatra e intelectualizado, angustiado e que não vê saída para sua tormentosa condição, autodenominando-se “lobo da estepe”. Mas alguns incidentes inesperados e fantásticos o conduzem lenta porém decisivamente ao despertar de seu longo sono: conhece Hermínia, Maria e o músico Pablo. E então a história se desenvolve de forma surpreendente.


Um Trecho do Livro


"Era uma vez um certo Harry, chamado o Lobo da Estepe. Andava sobre duas pernas, usava roupas e era um homem, mas não obstante era também um lobo das estepes. Havia aprendido uma boa parte de tudo quanto as pessoas de bom entendimento podem aprender, e era bastante ponderado. O que não havia aprendido, entretanto, era o seguinte: estar contente consigo mesmo e com sua própria vida. Era incapaz disso, daí ser um homem descontente. Isso provinha, decerto, do fato de que, no fundo de seu coração, sabia sempre (ou julgava saber) que não era realmente um homem e sim um lobo das estepes."

(HESSE, Hermann; O lobo da estepe, P. 46)

Acesse:

Só para loucos



O Lobo das Estepes 


Eu, lobo das estepes, corro, corro,
a neve cobre o mundo,
da bétula levanta voo o corvo,
mas nunca aparece uma lebre, nunca aparece um cervo.
E como eu amo os cervos!
Se acaso encontrasse algum,
prendia-o com garras e dentes:
é a coisa mais bela em que penso.
Com os sensíveis seria também sensível,
devorava-os todos de extremo a extremo,
bebia-lhes até ao fundo o sangue púrpura e espesso,
e solitariamente uivava pela noite dentro.
Contentava-me com uma lebre.
É tão doce à noite o sabor da sua carne quente.
Porventura foi-me negado tudo quanto possa, um pouco,
alegrar a vida, um pouco apenas?
A minha companheira, há muito que não a tenho,
o pêlo da minha cauda começa a ficar cor de cinza,
e só quando há bastante luz é que vejo.
Agora corro e sonho com cervos,
ouço o vento soprar nas grandes noites de inverno,
e a minha alma dolorosa, entrego-a eu ao demónio.

Hermann Hesse



5. CORA CORALINA



Breve Histórico


Nasce em Goiânia, em 10 de abril de 1985, Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, depois conhecida como Cora Coralina.Poeta e contista brasileira, que antes de ter sido descoberta era uma mulher muito simples, doceira por profissão.Viveu sempre longe dos centros urbanos, produzindo uma obra poética muito peculiar, totalmente alheia a modismos literários. Obra essa, fartamente rica em características do cotidiano do interior brasileiro, particularmente dos becos e ruas históricas de Goiás.Começou a escrever seus textos aos quatorze anos de idade, publicando-os nos jornais locais.Na verdade, ela possuía pouca escolaridade, tendo cursado apenas as primeiras quatro séries do ensino fundamental. Nessa fase, publicou seu primeiro conto Tragédia na Roça.Quando casou-se, em 1910, foi viver em São Paulo, onde vivera por quarenta e cinco anos. Com a morte de seu marido, passou a vender livros. Ao mudar-se para Penápolis, no interior do estado, passou a produzir e vender lingüiça caseira e banha de porco. Mudou-se em seguida para Andradina, retornando para Goiás.Com cinqüenta anos de idade, Cora Coralina, resolve assumir definitivamente seu pseudônimo, escolhido há anos atrás. Ela relata grande mudança interior, o que a fez perder o medo de assumir seu talento.


                    


Sua obra



Os elementos de seu cotidiano, sua origens humildes e interioranas foram fonte de inspiração para que cada vez mais ela se tornasse uma expressão de qualidade literária jamais vista por outro poeta do Centro-oeste brasileiro.A simplicidade de sua escrita, vez que desconhecia as regras gramaticais, valorizou a mensagem ao invés da forma, sendo uma escrita de grande força e pungência.Sua poesia tornou-se conhecida em todo o Brasil através do grande poeta Carlos Drummond de Andrade.Seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás, foi publicado quando ela completou seus 75 anos de idade. Com essa publicação, ela é consagrada como uma das maiores poetisas da Língua Portuguesa do século XX.Onze anos mais tarde, em 1976, compôs Meu Livro de Cordel. Finalmente, em 1983 lançou Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha (Ed. Global).Foi eleita intelectual do ano e contemplada com o Prêmio Juca Pato da União Brasileira dos Escitores em 1983.Dois anos mais tarde, veio a falecer. Logo após sua morte, amigos e parentes uniram-se para criar a Casa de Coralina, que mantém um museu com objetos da escritora.


                  


 Algumas de suas frases


"O saber se aprende com os mestres. A sabedoria, só com o corriqueiro da vida."

"O que importa na vida,não é o ponto de partida,mas a caminhada.Caminhando e  semeando,no fim terás o que colher!"

"Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos."

" Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas."

" Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores.Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores."

"Procuro suportar todos os dia minha propria personalidade renovada,despencando dentro de mim,tudo que é velho e morto."


Alguns de seus poemas


NÃO SEI... 

Não sei... se a vida é curta...

Não sei...
Não sei...

se a vida é curta
ou longa demais para nós.

Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura...
enquanto durar.

O cântico da terra 


Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.

Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.

De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal.

Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.

Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.
E um dia bem distante

a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho, do gado e da tulha. 
Fartura teremos e donos de sítio felizes seremos.

Assim eu vejo a vida


A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

Cora Coralina


6 -  
 MANUEL BANDEIRA


O modernismo vem como forma de se livrar se tudo o que era visto como certo. O homem é o centro dessa época literária, portanto a poesia se volta para os problemas e dilemas da sociedade.

                                              


Bandeira faz parte da primeira fase moderna. O autor foi responsável por solidificar o modernismo no Brasil. Estreou no Modernismo com o poema “Os Sapos” na semana de arte moderna, recitado por outro autor porque Manuel Bandeira recusou o convite de participação do evento.
O poeta tem um traço típico em suas obras, a sua doença. Desde 1903, quando o autor tinha 17 anos, foi descoberta sua tuberculose. De 1916 a 1920, assistiu a morte de seu pai, mãe e irmã. E lutando diariamente com a própria doença. Seus temas são voltados para o lugar onde viveu a infância, o cotidiano, o jeito brasileiro de viver a vida, e claro, os traumas de sua vida adoecida.
Em 1940 é eleito membro na Academia Brasileira de Letras, de 1938 a 1943, foi professor de literatura no Colégio D. Pedro II. Posteriormente, nomeado professor de Literaturas Hispano-Americanas na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, cargo do qual se aposentou, em 1956.
Manuel Bandeira falece em 13 de outubro de 1968, com 82 anos, de uma hemorragia gástrica.



CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

A poesia de Manuel Bandeira nasce parnasiana e simbolista e, aos poucos, se distingue como "o melhor verso livre em português". O poeta transita do Parnasianismo ao Modernismo e experiências concretistas, conservando e adaptando os ritmos e forças mais regulares.
Em sua obra, o aspecto biográfico, marcado pela tragédia e tuberculose, é poderoso, constando até em obras nitidamente modernas, como Libertinagem. Há, ainda, a marca da melancolia, da paixão pela vida e das imagens brasileiras. As figuras femininas surgem envoltas em "ardente sopro amoroso", enquanto outros poemas tratam da condição humana e finita sem deixar de demonstrar o desejo de transcendência como em Momento num Café, Contrição, Maçã, A Estrela e Boi Morto.

Fonte: Google


Análise do poema Os Sapos



                



POEMAS


ARTE DE AMAR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


O BICHO

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.


NEOLOGISMO

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.




Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails