O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Segredos de Amor








E se da dor
fez-se o espanto
da tristeza
fez-se o pranto
coração aprisionado
encarcerado em si
medo de amar
Chama que arde
queima e invade
amor...
sublime amor

sina que arde
em tristeza
até ao meu limite...
onde sou derrotado
por um simples par
de lábios vermelhos
com aroma
de Afrodite...

Amor que entontece
num simples beijo
e depois o desejo
de unir nossas almas
numa só e única
Mas a entrega
esmorece
no anseio do encontro
perdemos o rumo
desatamos o ponto
aqui...


onde aprendemos a submissão
do sentimento
a sussurros sazonais
que nos soam a música
florescida em mistério...
pois que de mistério
é feito o amor
surpresas e revelações
pontes para o infinito
interrogações
murmúrios
e gritos...

de estrelas caídas
em extravagância...
extasiado,
só peço que me leves lá
a esse jardim proibido...


Ianê Mello / José Carlos Patrão



Vale de Amor


Canto poemas: —, um som de ninar!...
Há na mente, lembranças de outrora;
reli teus versos: —, sou asas a voar...
Inda guardo as letras, embora,
sejas a poetisa com teu sonhar!...
Ah, vejo teu sorriso nesta aurora,
meus olhos ficam a flutuar
aos cantos; horas, após novas horas...

Gritei: —, vejo a tua luz multicor:
— Era um novo canto de amor!...


Machado de Carlos

Recanto das Letras

Código do Texto; T2529435
O AMOR QUE FERE

O amor deita no peito

faz nascer medo, anseio

descortina o Mundo

sujeito a dar defeito

agora não tem mais jeito

a tempestade inunda

toma conta

atiça, afronta

desmorona o Muro

cadê teus olhos nessa pele virgem

guardada imaculada, imantada

no veneno que me faz viver

o desejo que te sonha, busca

trepida enclausurado

nos versos adúlteros

que me joga na cara

cospe no véu

despe a fome que tenho de ti.

O Anjo Vingador também é traiçoeiro

Ama tão somente como os poetas amam:

Ele só ama o Amor

E o desespero de jamais encontrá-lo com vida.

Lou Albergaria

NO LARGO DA CARIOCA






Existem horários tão rígidos
Para todos que correm ali
Uma praça de dias cariocas
Com seu obelisco excêntrico
Seus três relógios distantes
Com horas distintas cada um

Imagine que ali não haja tempo
Que não passará para nós dois
Por mais que cuidemos tentar
Jamais nosso tempo se perderá
Ficará em nossas mãos o ir e vir
De areias faiscantes a renovar-se

Tomamos os braços da viagem
Com boas razões para fugirmos
De um mundo paralelo que existe
Onde orelhões imundos desafiam
As leis e a ordem natural de tudo
Propondo infinitos amores grátis

Um vento agitou a praça carioca
Folhas de jornais voavam ao alto
O Jornal do Brasil se demitia daqui
Do mundo das notícias ilusórias
Para se acomodar noutros mundos
Onde a mensagem é segura e fiel

Nenhuma paisagem pode ser vista
Deste lugar onde a alheias paredes
Opõe-se um cercado sem biografia
E quem anda por ali só tem pressa
Tudo a dar razão ao tríplice relógio
Em partir, em chegar e em ir embora

Uma fuga que os amantes não notam
Nada lhes foge em aborrecida pressa
O tempo como em sutil cumplicidade
Entrega às horas vazias um cardápio
Repleto de iguarias que lhes alimenta
A alma e o coração em febril regozijo




BETO PALAIO

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Olhar interior



Minha mente era abstrata como a arte de Kandinsky.
Nunca duvidei disso. Sempre tive na alma
A cabeça imaginando. E a minha existência, um bis
De ensejos enclaustrados. Só que agora a calma,

O conforto que me alimentava, que me dava
A confiança numa vida póstuma, se inclina
Diante da realidade e mostra-me a una estrada
Da aceitação. Que o sofrimento é o que ilumina

O perfeito; é o ingrediente necessário,
Que completa, num paradoxo harmonioso,
A lógica dos anos. E assim sendo, amparo

O diagnóstico dado e esqueço o que é fastigioso
Sem, no entanto, furtar-me à luta e às proporções
Da existência. Quero é viver de novos tons.

RODRIGO DELLA SANTINA

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Camille Claudel e sua bela escultura "Sakountala"




Camille, Camille, és mulher...

Acorda do teu sono tão profundo.
Para além dos olhos do amado
existe um vasto mundo
a ser por ti desvendado.

Levanta-te, mulher,
abras teus olhos e vejas
e tudo o que desejas
poderá estar a teus pés!

Esqueças o amor petrificado,
em mármore frio eternizado
e vivas em ti o amor encarnado
na figura de um homem real.

De carne e osso, humanizado.
Amor , sem artifícios, natural.

Ianê Mello



Eis a mulher na sua melhor forma de expressão
Eis a mulher que nos tira a nossa dor
E esta sua forma de extrema exaltação
É a expressão exacta do amor
Porque se dá aos outros, sem nada em troca pedir
ficando à espera apenas de um carinho
A todos nós só nos compete servir
Essa mulher: - A fada do nosso ninho

Que mais dizer, desse ser tão especial
Que nos envolve em amor que não tem conta
E que é na sua dádiva, afinal
O melhor bem, que a vida nos apronta...

Só que depois de tanto amor
Teve como "prêmio": -um mal sem cura
E depois de sofrer tanta dor,
O que lhe ficou ?...Só a loucura... !!!
Em Rodin, tudo Camille, encontrou...
Sem afinal, dele nada receber
Com esse mal sua saúde abalou
E acabou por entre amor e ódio falecer
 



Joaquim Vale Cruz


No leito da Morte
tuas Asas Negras acenam a cripta
celeste do repúdio
da carne viva
lábios famintos
cansados dos beijos sonhados
jamais sentidos
eternidade onda de fúria
ódio, raiva,
escárnio ao Amor Puro.

A Solidão é a verdadeira gaiola
que aprisiona quem jamais seremos.

O amor é mais frio que a morte!

Se tenho que morrer
que seja da poesia que sinto por TI
a qual tanto me pune.

Quero incendiar máscaras, véus
devaneios profanos
pureza ruborizada
foge maculada de vergonha.
Meu desejo
hoje sanguinário algoz
Mata-me de tristeza
Mas jamais Acabará O Sonho.


Lou Albergaria

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Assim é o amor...







É o amor
em dose dupla
que nos cerca
que promete coisas
De lá prá cá
É o seu amor
Dizendo ao meu
fica comigo
Daqui prá lá
é o meu amor
Dizendo ao seu
fica comigo
Quando atentos
Ou nem tanto
Nos entendemos
ser um do outro
E era isto somente
o que o amor queria




É o amor...
sol e lua
Yin e yang
Corações em uníssono
batendo juntos..
Tum-tum...tum-tum
Olhos nos olhos
e na mesma direção
Mão na mão
surpresa e emoção
aflora e se demora
no compasso
da paixão




É o amor...
tão sorrateiro
qual fumaça
nas serranias
chega cedo
para logo sumir
ao meio-dia
Aparece aqui
desaparece ali
Diz-se especial
Faz-se de truques
Esse é o amor
Dos escravizados
que nunca chega
perto do nosso
que é um amor
tão delicado
dado ao infinito




É o amor...
presente mais caro
sentimento raro
faz a alma saltitar
faz-nos crianças
vivemos das lembranças
dos momentos a passar
quando longe
um do outro
a saudade a apertar
tudo o que queremos
é aos braços um do outro
nos entregar




É o amor...
Nos propondo laços
aprofundando atos
teimando em vir
nas horas impróprias
acendendo lumes
abrindo históricos
queimando incensos
Real este amor
dado a farturas
passando fomes
dormindo ao léu
saltando pontes
queixando-se além
de estar sozinho
enfastiado com tudo
de barriga cheia
satisfeito em fazer
de nós dois
apenas nós dois
seus mais fiéis
adoradores.




É o amor....
namoro na rede
noite ao luar
céu de estrelas
brisa a refrescar
horas inteiras
no ato da entrega
num beijo selada
promessa de eternidade
olhos nos olhos
transbordando carinhos
amor perfumado
rosas febris
escondidos espinhos
para não ferir
Amado cuidado
no sono velado
no cansaço da noite
repleta de amor
nos corpos extasiados
satisfeitos no prazer


Beto Palaio e Ianê Mello


Mulher comovente exaltação
amor, fluidos, demência, Razão
Os seres que te habitam, celebram
transitam na fronteira tênue
do sagrado e o profano
sentimento deflorado
angústia aguardando suas mãos...





Lou Albergaria




Amor, amado
sonhado
cuidado,
como uma flor...
Amor de algum dia
amor que trazia
ânsia de viver
e que veio dar
vida aos meus dias
em que as arrelias
já antes moravam
e me sufocavam
sem razão
de ser...
Agora de novo
o sonho voltou
e o amor chegou
trazendo harmonia
ao meu dia-a-dia
e ela nos meus braços
estreitando os laços
que em nós já havia
gemendo sorria
por tantos afagos…
seus olhos eram lagos
em que eu me afundava
seu corpo se abria
em carícias ternas
que eu quizeras eternas
levando-me aos céus
em sonhos tão belos
felizes, singelos,
mas com tal beleza
que eu tenho a certeza
só vão terminar
se a noite chegar
cheia de cansaços
de corpos suados
mas tão extasiados
de tal amor ter
mas sempre enleados
…mortos de prazer…





Joaquim Vale Cruz





Quando o desejo dava as mãos,
pelas catedrais dos Deuses,
mergulhava na água sedenta do teu corpo,
e dizia baixinho ...
_Meu Amor!

Com o sol ainda a queimar os lábios,
brotava no meu ventre a água doce,
da apoteose do ser... e da
sede a saciar...

A rir , deslizava os dedos,
no teu peito, ao ouvido a sussurrar...
_ Meu amor , os poetas são feitos
de fogo e mar!






Maria Augusta Loureiro
(Margusta)







O silêncio como cúmplice




Silencia toda a dor
acalenta na alma o pranto
não há como o sofrimento expressar
o que um simples olhar denuncia

Tantas vidas aniquiladas
mortes e danos sem par
em nome de um autoritário regime
que não há como suportar

Seres humanos pensantes
rebelam-se e revoltam-se
não conseguem se calar
mesmo que a vida lhes seja roubada

Pela causa que é justa
o sofrer torna-se um nada
Como silenciar o grito
num coração que segue aflito


Ianê Mello

(Inspirado no filme " Cúmplices do Silêncio ")



O silêncio de tanta dor
só resulta da ditadura
e da cruel loucura
de um homem sem razão
e de outros que o acolitam,
aceitam e aproveitam
p'ra reinar na confusão...
Os instintos mais cruéis
são destilados então
e o povo é quem mais sofre
no meio da revolução...
São dores, que não têm fim,
são prantos de tantas mágoas
São gritos que não se calam,
porque as pessoas não falam,
senão através de lágrimas...



Joaquim Vale Cruz





Diálogo Poético - Colaboradores: Ianê Mello / Joaquim Vale Cruz

O Mar...



Ana Maria Guimarães




Sempre que vejo o mar
sinto um desejo profundo
de poder sentir o abraço
de toda a gente do Mundo...
Porque o mar também abraça
todo o Mundo, pois então
por mais que a gente faça
a todos, todos enlaça
levando nas suas águas
as coisas boas e as mágoas
em ondas e em marés
que morrem aos nossos pés
em naufrágios de ilusão...






Joaquim Vale Cruz

PRIMAVERA SOLIDÁRIA



I


Ruas de primavera
arvoram com seus botões
acordar de longo inverno
num dia de apenas flores
nesta rua em total silêncio
têm prazos para existirem
entre pardais apressados
que o florir nunca comovem


Ruas primaveris
onde cantam pássaros 
e flores perfumam o ar
inebriando os sentidos
Enamorados de mãos dadas
em caminhos de hortênsias
espalham amor com a brisa
que leve sopra
em nossos cabelos
em nosso rosto


A cidade alta compete
com os baixios sem jardins
do cimento e do concreto
enquanto majestosos ipês
amarelecem as encostas
nas ruas imediatamente
abaixo, os carros destoam
em cores cinzas e anormais
em tudo há discordâncias
pobre do mundo sem flores


A civilização se apresenta
em concreto e ostentação
prédios que se avolumam
recortando a paisagem
recobrindo o céu azul
Pessoas em passos apressados
mal se olham ao cruzar
Barulhos ensurdecedores
motores, buzinas
Empresários em seus ternos
empertigados e ausentes
Ruas da cidade...
Inóspitas e hostis


Os jovens são como árvores
pedem para fincar raízes
doar ao mundo seus futuros
longe de assentamentos ocos
a maior pujança do planeta
pedem socorro para também
florirem a seu modo, serem
gente, terem valores próprios
brilhar em amarelos tal os ipês
contam do luxo de existirem


Haverá ainda esperança
no sorriso de uma criança
no florir de uma rosa em botão
no verdejar das copas das árvores
nos corações cheios de amor
O planeta pede socorro
Ouçamos seu grito que ecoa
Recuperemos nossa humanidade.


II


Ando pelas ruas
ruelas
escuras
sombrias
mendigos pedintes
recantos escondidos
abrigam corpos
na noite fria
Papelões servem de cama
e forram o sujo chão
Crianças ranhentas
choramingam
fome, frio, desalento
Quanta dor 
nesse pobres corações
Sem lar, sem teto, sem pão
Sem carinho,
sem esperança
Quantas vidas
em vão
Sofridas, desumanas
Carentes de tudo
São flores em andrajos
Visíveis, entretanto, aos olhos
De quem quer enxergá-las.




Ianê Mello e Beto Palaio

Dança em Descompasso

Cartier Bresson 




O meu par se afastou um pouco
Ele estava levemente alterado
Queria porque queria me enlouquecer
Pediu algo para o chefe da orquestra 
Depois soube que era uma valsa


Girando, girando...
minha cabeça  a rodar
Pensei que fosse um tango
"Por una cabeza" a imaginar


inventa-se tudo à girar
mão na mão, face na face
os passos sem medidas
acentuam o desajuste
da tonteira que isso dá


Bem poderia ser Astor Piazolla 
na vitrola a rodar
mas ele queria uma valsa
em seu passos a bailar


Cada vez que ela sente
perfumes que lhe chegam
como surpresa "caliente"
sua alma a girar mais ainda
passos de tango em Paris


Essa era a questão
num olfato tão apurado
estava mais para um tango
"caliente" como a estação
o verão que se aproximava 


Juventude que se esvai
cada tropeço uma sentença
danças de salão anoitecem
almas que quedam acesas
chamas a si mesmas corroem


E num olhar de mormaço
se perdem no passo a passo
inebriados de vinho
entorpecidos de amor


A vida imita a arte
som de passos que desistem
acomodam-se no ir embora
a luz que apaga a orquestra
é a mesma que acende a rua


Há que se ir sem demora
na parada do hotel da esquina
onde a vida se enamora
enquanto a madrugada finda

Beto Palaio e Ianê Mello




Ai o tango
Dança sensual
Em que o roçar dos corpos
Em passos rápidos
Lentos e lépidos
Suscita beijos sápidos
Quentes ou tépidos
Desfia a música
Em que o par se isola
Marcando o compasso
De Piazzola

Ai o tango
Em que me confundo
E com ela
Sonho
Um sonho profundo
Em que estamos sós
Bailando no Mundo

Ai o tango
Que eu quero dançar
Até meu final
A rodopiar
Sempre sem temor
De forma tão leve
Em compasso breve
Sentindo o odor
De uma qualquer flor
Nos braços do amor
Nesta vida breve…





Joaquim Vale Cruz

domingo, 26 de setembro de 2010

Secreta Mirada






I


Teus olhos guardam 
segredos
secretos
secreta mirada
Amor velado
na íris
acalentado
Olhos de veludo
fitam  a amada
em carícias 
e desvelos
Olhos que tecem
a trama
do amor
em novelos
de lã
como a aranha
tece
em fios
cuidadosamente
sua teia


 II


Olhos de lingerie
ternos e doces
enlaçam no mirar
a completa doação
de corpos ardentes
momentos sutis
de unhas tecendo
linhas invisíveis
na pele em brasa
do ser amado
tua, teu, nossos
pronomes oblíquos
ocultos em redes
de eminente e santo
amor e miradas
abrigados ensejos
de moradas celestiais


III


Olhos de seda
azul acetinados
vasta imensidão 
perdidos a vagar
Teus olhos
náufragos
avistam o mar
Olhos de diamante
estrelas a cintilar
Mira nos meus
esse teu olhar
Deite sobre os meus
teus olhos
de mar
Eu que já sou teu
e me perdi
nos teus
a te amar


 IV


Faça de conta
olhos teus
que nos meus
viesses a guardar
algum tesouro
bem escondido
de pedrarias
de jóias raras
justo ao fundo
num remanso
onde um rio
de eterno fluir 
para que os teus
como ideal
olhos - doçura 
pousassem ali
em ato real
vigiando em ter
de volta como teus
claros tesouros


 V


Pouso nos teus
meus olhos - doçura
finda a procura
de outro olhar
Tesouro revelado
pedras preciosas
neste olhar amado
Um rio a fluir
de encontro ao mar
deito em teu leito
meu olhos
em teus olhos
a mirar
Tamanho
é o mundo
que o mundo
contém
por tudo 
o que existe
de longes montanhas
a tingirem
seus matizes
em palpável
horizonte
onde o mar
se entrega
a um esgarçar
de céu
Ali teus olhos 
aprazem mirar 
longamente
além de onde 
se alça limites
Secreta mirada
teus olhos 
nos meus
serena 
encantada
tua eterna
enamorada
sonhos primaveris
desejos febris
O mundo
é vasto
nosso amor
deixa lastro
num arco 
de luz e paz


Ianê Mello e Beto Palaio
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