Cartier Bresson
O meu par se afastou um pouco
Ele estava levemente alterado
Queria porque queria me enlouquecer
Pediu algo para o chefe da orquestra
Depois soube que era uma valsa
Girando, girando...
minha cabeça a rodar
Pensei que fosse um tango
"Por una cabeza" a imaginar
inventa-se tudo à girar
mão na mão, face na face
os passos sem medidas
acentuam o desajuste
da tonteira que isso dá
Bem poderia ser Astor Piazolla
na vitrola a rodar
mas ele queria uma valsa
em seu passos a bailar
Cada vez que ela sente
perfumes que lhe chegam
como surpresa "caliente"
sua alma a girar mais ainda
passos de tango em Paris
Essa era a questão
num olfato tão apurado
estava mais para um tango
"caliente" como a estação
o verão que se aproximava
Juventude que se esvai
cada tropeço uma sentença
danças de salão anoitecem
almas que quedam acesas
chamas a si mesmas corroem
E num olhar de mormaço
se perdem no passo a passo
inebriados de vinho
entorpecidos de amor
A vida imita a arte
som de passos que desistem
acomodam-se no ir embora
a luz que apaga a orquestra
é a mesma que acende a rua
Há que se ir sem demora
na parada do hotel da esquina
onde a vida se enamora
enquanto a madrugada finda
Beto Palaio e Ianê Mello
Ai o tango
Dança sensual
Em que o roçar dos corpos
Em passos rápidos
Lentos e lépidosSuscita beijos sápidos
Quentes ou tépidos
Desfia a música
Em que o par se isola
Marcando o compasso
De Piazzola
Ai o tango
Em que me confundo
E com ela
Sonho
Um sonho profundo
Em que estamos sós
Bailando no Mundo
Ai o tango
Que eu quero dançar
Até meu final
A rodopiar
Sempre sem temor
De forma tão leve
Em compasso breve
Sentindo o odor
De uma qualquer flor
Nos braços do amor
Nesta vida breve…
Joaquim Vale Cruz
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