O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poemas a duas mãos

by Escher

Brancas trevas

O pincel me obscurece a mão
E a pena canta-me essa sombra,
Como canta o poeta sem a Musa.
Mas a pena não é a solução,
Nem o poeta,
Nem o seu pranto.

A solução é a dor,
A perene,
A santa,
A que esquenta as mãos frias
No fogo escuro do meu peito
E faz do meu pranto um milagre.

(Fabiana Alves e Rodrigo Della Santina)


O canto do pássaro

O pássaro, muito esperado, sussurra para o poeta
                                                                                impenetrável
A vida tormentosa, e indefinivelmente canta a espada
                                                                                   indissolúvel.

(Fabiana Alves e Rodrigo Della Santina)


Os três elementos


A valentia substancial aborrece a alienação admirável;
O ritual, rasgado, ratifica o vaso rústico;
E o boneco brilhante brinca nos bosques bizarros.

(Fabiana Alves e Rodrigo Della Santina)

FABIANA ALVES e RODRIGO DELLA SANTINA

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sou


Meu corpo é uma muralha que dura;
Meu corpo, uma árvore velha que existe.

Sou feito do carbono, sim, mas também
Do pó que os séculos juntaram sobre outro pó.

Porém minha alma, essa é filha do impalpável, dos
        anseios mais recônditos, das horas de imaginação.
Minha alma, a folha que se destaca do galho,
O sol que vem pra consolar a chuva e sorrir aos animais.
(Ó minha alma amarelecida, quão delicada é a sua
                                                                                      aparência!).

Sou, portanto, feito do carbono, sim, mas
                             essencialmente, mas principalmente
Do sopro milenar de todas as existências,
Forte, vigoroso e verdadeiro.

RODRIGO DELLA SANTINA

Jogando Damas


Escravo das damas
Moveu as peças
No jogo de Damas


Pulou as casas
Explorando camas
Por muitas praças


Tabuleiros e tramas
Galgando as famas
E foi numa dessas


No entorno de dramas
Sem ouro ou graças
Atolou-se nas lamas


by IVAN CEZAR INEU CHAVES
(voltando de férias )

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Pedregulhos


Cheguei onde não devia ter chegado.
Quis viajar e não devia ter viajado.
Deus disse: “A estrada é pedregosa e há muitos demônios
                                                                                        no caminho”.

Deus é o culpado.
Devia carregar a amargura em seus ombros.
Em vez disso, faz minha alma tremer de esperança.
E é tanta a que a minha alma sente que meu corpo não
                                                                    aguenta e desfalece.

Deus tem o que quer:
Um rebanho crescente à sua igreja.

RODRIGO DELLA SANTINA

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Disfarces


Dói-me acostumar...
nesse olhar,
disfarçadas máscaras,
a me sorrir, a gerar, em mim,
o vento da angústia,
a me perseguir

Estou farta do estardalhaço
de uma noite
que não se finda,
da incógnita refletida
e desses véus sobre rostos
que não se animam
a ser ou a redimir-se

Busca infinda,
por entre indecífráveis sorrisos,
o meu olhar, indignado,
perplexo, aturdido,
tenta afastar-se, repleto de avisos,
sem querer acostumar-se.

Busco o som do tempo
de outrora,
em que o canto da noite
e o sorriso da aurora
vinham sobre a Terra,
abraçar a Verdade e a Justiça,
em corações felizes,
a cantar a Paz.


(Otelice Soares)

Adeus!...

Quem nasceu primeiro: o homem ou a galinha?



O mundo é um frango que arde sem coser;
Uma galinha que choca descontente;
Um pintinho que nasce impertinente;
Um ovo que nasceu sem o fazer.

É um não-querer; é um sim-querer;
É um frango à solta displicentemente;
É um pintinho louco e mui carente,
Molhado, como um pinto deve ser.

É uma galinha presa em liberdade;
Um frango assado e muito rubicundo;
Um pintinho capado sem piedade.

Porém, como causar amor profundo
No coração da gente se a verdade
Não escapa das mil voltas que dá o mundo?

RODRIGO DELLA SANTINA

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Gerundiando


Eu estava pensando em estar dizendo
Umas coisas pra você ficar gostando.
Mas tou de estar falando medo tendo
Que fico nesse -endo e nesse -ando.

São coisas (só pra estar lhe esclarecendo)
Pra que você não pense estar falando
Com um poeta que vai sempre versejando
Umas coisas que ninguém quer estar lendo.

Ocorre que o que estou dentro sentindo
Não sei como poder estar lhe expondo,
Que não estou expressar-me conseguindo.

Mas não pense que estou me contrapondo
A estar aquelas coisas lhe exprimindo,
Pois vou este soneto estar compondo.

RODRIGO DELLA SANTINA

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Para Ianê

Isto, aqui, poeta, linda menina,
A derramar-se,
No ritmo da minha amizade e emoção
É para dizer,ao mundo, da minha profunda admiração

Por ti!
(Otelice Soares)


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Meus dois novos blogues!

Olá, poetas, contistas, cronistas, blogueiros das letras portuguesas! Meus cumprimentos a todos! Quero apresentar a vocês meus mais novos blogues.



O primeiro, intitulado Bocas do Purgatório, é um blogue de humor, isto é, onde pus e porei meus poemas mais irônicos, mais críticos; tudo com jocosidade, para causar no leitor as cócegas que levá-lo-ão ao riso, inda que tímido. Espero que ele, o blogue, possa lhes proporcionar prazer e graça, como a mim, quando o componho.



O segundo blogue, intitulado Buraco de Amavios, é um espaço destinado aos meus poemas eróticos; e mesmo estes possuem certa hilaridade. Transpassada a barreira do pudor, tenho certeza que poderão se deliciar com eles e sentir o prazer de suas rimas.

Anseio, portanto, por sua visita aos meus novos cantos internéticos, por sua apreciação, mas inda mais pelo regozijo de sua leitura.

Grande abraço a todos,
Rodrigo Della Santina

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Insanidade


Guardo minha insanidade nas páginas amarelecidas de
                                                                                              um livro;
Deixo-a descansar do frenesi cotidiano, das pústulas da
                                 ansiedade, das obrigações com o futuro,
Das repetições no lar, dos berros medievais da alheia
                 insanidade, do odor da insônia, sempre alerta;
Deixo-a descansar, enganada do mundo, imersa em suas
                      sombras, sentada nos alicerces de sua própria
                                                                                             existência;
Deixo-a fingir para si mesma a sua onipotência,
Tonitroar seus cantos, imaginar sua força, defender sua
                                                                   honra, proteger sua voz;
Deixo-a sucumbir à vaidade, sentir a inveja, mastigar a
           angústia, contorcer-se em fúria, alcançar a glória;
E quando tudo isso acaba, como um ciclo natural da vida,
Desenho com versos toda a sua existência onírica e,
                           como um ser vivente do Olimpo, repouso.

RODRIGO DELLA SANTINA
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