O excesso de luz cega a vista.
O excesso de som ensurdece o ouvido.
Condimentos em demais estragam o gosto.
O ímpeto das paixões perturba o coração.
A cobiça do impossível destrói a ética.
Por isso, o sábio em sua alma
Determina a medida de cada coisa.
Todas as coisas visíveis lhe são apenas
Setas que apontam para o Invisível.
(Tao-Te King, Lao-Tsé)
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
O cavaleiro — oferta
Isto porque não sou mais necessário:
Minha lança é ferrugem; meu escudo,
Papelão. Porque lá no fim de tudo
No’ há mais, Teseu, no’ há mais um Minotauro.
RODRIGO DELLA SANTINA
Ilustre cavaleiro, necessário sempre serás
Em tua lança há memória e história.
E bem próximo à ti, há os jovens que desejam
Seguir teus passos. Teus ensinamentos
entre eles, será de júbilo, e tudo que ensinares
sobre Teseu e Minotauro, verás no fim,
a representação dos teus passos e serás
eternizado, em cada luta , em cada traço.
MIRZE SOUZA
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
LADRÃO DE ALMAS
Ladrão de almas
na escuridão se esconde
no abismo da negação
em noites insones
em desejos abandonados
por entre as folhagens
em florestas desconhecidas
em solidões presentes
ao final de tudo
Ladrão de almas
sempre à espreita
por uma nova alma
que substitua a sua
pois dela se desfez
por pura insensatez
por pensar que sem ela
seria mais feliz
Hoje rasteja
corpo sem alma
oco, vazio
desejoso de encontrar
uma alma perdida
para dela se apoderar
pois pior do que ter uma alma
é ser um corpo a vagar
Ianê Mello
Alma entorpecida
letras caídas
derramadas
iras profanas
em asas de fadas
No corpo morto
ainda caminha
- a alma é o esqueleto! -
que jamais se desnuda.
Lou Albergaria
Corpos sem alma
Corpos despidos
Perdida a calma
E os sentidos
O vazio é tanto
Que faz doer
Aumenta o pranto
Que só faz sofrer
A escuridão aumenta
Tanta negação
Que nessa tormenta
Fica a solidão
Os sonhos povoa
Com seus “cauchemar”
E cá dentro soam
Lágrimas e pesar
E as almas roubadas
Por ladrão feroz
Ficam transformadas
Numa dor atroz
Joaquim Vale Cruz
Corpos sem alma
Corpos despidos
Perdida a calma
E os sentidos
O vazio é tanto
Que faz doer
Aumenta o pranto
Que só faz sofrer
A escuridão aumenta
Tanta negação
Que nessa tormenta
Fica a solidão
Os sonhos povoa
Com seus “cauchemar”
E cá dentro soam
Lágrimas e pesar
E as almas roubadas
Por ladrão feroz
Ficam transformadas
Numa dor atroz
Joaquim Vale Cruz
domingo, 23 de janeiro de 2011
CADAVRE-EXQUIS (15)
Pintura de Pieter Bruegel
Pontualmente as madeixas
Da nossa era mecanizada
Caravanas de guerreiros
Ricamente adornados
Aos rituais ilustrativos
Para nossos fins egoístas
Figuras prepotentes
Em suas vestes requintadas
No olhar o distanciamento
Daquele que é superior
Na alma o vazio
De quem não sabe sentir
Tomar nas mãos pepitas
Do ouro oculto no chão
E sonhar revelar riquezas
Que nunca se repetirão
Das aventuras desconexas
Bravatas de ponto de ônibus
Migalhas de afeto
Meramente encenado
Distribuídos a esmo
Para justificar-se humano
Sem amor, nem compaixão
Em súbita amabilidade teatral
Arremedos de ser feliz
Cantos abafados na noite
Formatos vagos na insônia
Com a solidão ininterrupta
Tudo o que ela promove
Volta sempre a incomodar
Por medo e por cautela
A prevenir sofrimentos
Em si mesmo se fecha
Tornando-se esse ser
Aparentemente sem alma
Que só enxerga a si mesmo
Beto Palaio e Ianê Mello
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
MISTÉRIOS DO OLHAR
O olhar pode ser duro
como o aço
Pode ser claro
calmo e sereno
Pode ser
puro veneno
a castigar
Pode ser atento
ou indiferente
Pode tudo ver
ou nada enxergar
Quanto de amor
cabe num olhar
nos olhos do amado
a se derramar
Olhar que vê longe
Olhar que se esconde
Olhar que se entrega
Olhar fugidio
Olhar de tristeza
Olhar de alegria
Olhar perdido
Olhar que vagueia
Olhar objetivo
Olhar certeiro
Ah, o olhar...
quantos segredos
esconde
um simples
e singelo olhar.
Ianê Mello
Quantos segredos se escondem
Num singelo e simples olhar
Onde tudo se pode ver e nada se enxergar
Pode ser calmo e sereno
E quase nos pode cegar
Mas pode até ser veneno
Que acaba por nos matar
Se ele é como o aço, duro
Pode causar sofrimento
Mas se acaso é doce e puro
É esse olhar que eu procuro
P’ra acabar meu tormento
Pois é nesse olhar atento
Mas que eu não quero indiferente
Em que eu procuro o alento
Para que possa ser fermento
E em mim sinta latente
E quando couber nesse olhar
Da sua chama o ardor
Nele se vai encontrar
E se pode então achar
Toda a força do amor
Joaquim Vale Cruz
CADAVRE-EXQUIS (14)
A quebra-pedras floriu
No leve inverno de Maio
Prenúncio apenas acompanhado
Por um vento ainda tépido
Algo a diminuir o Verão
Sob um sol esplendoroso
A natureza se revela
Em flores de raros perfumes
Alfazemas, jasmins, lilases
Cores que cantam o amor
O espaço é das andorinhas
As quais voejam acrobáticas
De par em par, aqui e ali
Formando ninhos e filhotes
Tempo de anunciar afeições
Na manifestação mais pura
Ao contemplar dos amantes
Pele e relva encobertos
A trocar carícias
Pela natureza resguardados
Os seres se protegem
Mais do que deveriam
Do permanente inverno
Quem ao coração renega
Carinhos da entrega plena
Fulgurante estação
Ao despertar da aurora
Revela o pulsar da vida
Em vibrantes sentimentos
A amorosa comunhão
Beto Palaio e Ianê Mello
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
O cavaleiro
Andei outrora por um chão de terra:
No punho, a lança: na armadura, o emblema
Da glória antecedente, cuja pena
Marcou, sem ter inveja, a história eterna.
Lutei contra dragões numa caverna:
Lutei contra gigantes, com centenas
De nobres cavaleiros e a centelha
Do resplendor da morte erguida era.
Porém, no derradeiro embate, a lança
Quebrou-se e se teceu da sorte o fio.
Não tenho dessa queda uma lembrança:
Não sei como se deu: sei que existiu:
Que a glória me seguia em minha andança:
E agora, como vês, daqui partiu.
RODRIGO DELLA SANTINA
CADAVRE-EXQUIS(13)
Num arrebatar de folhas secas
Sopros de flautas no bambu
Vestes vazias, flores que voam
Destinos desenhados com giz
Tão remotos, toscos, tempos idos
Fugidio como o vento
Se esvai na poeira
Bicho solto e sem dono
Passado que se funde
Num aglomerado de sonhos
Na brisa leve do porvir
Tudo o que fazemos conta
Os caminhos surgem fechados
Oclusos perto do que se imagina
Inscritos no que já vivemos
Cantilena de dores
Amores pueris
Paixões que emudecem
Corações em conflito
Submersas emoções
No rio do tempo estamos
Peixes em humanas vestes
Nadamos contra a maré
Dos acontecimentos ao redor
Somos, estamos, temos, existimos
Entre lágrimas e risos
Enganamos a verdade
Resistimos com coragem
Aos dissabores e decepções
Desatamos nossos nós
Beto Palaio e Ianê Mello
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
A MATURIDADE
Pintura de Francine Van Hove
Essa imagem que meus olhos fitam refletida no espelho,serei eu?
Pareço diferente aos meus próprios olhos. Algo mudou mas não identifico exatamente o que.
É certo que o tempo passou. Lá se foram alguns anos de minha vida. A pele já não tem o mesmo viço e frescor. Os olhos, ligeiramente inchados nas pápebras, já não possuem o brilho de outrora. Há linhas de expressão, ainda que leves, a se formar em meu rosto. Já posso vê-las. Meu corpo, ah, meu corpo... já não possui as curvas tão definidas e o desenho dos músculos já se perdeu. Mas também, o que eu poderia esperar, já não sou mais uma jovenzinha.
Sim, a vida passa e deixa suas marcas, umas visíveis, outras não. As que vejo no espelho e me impressionam (preferia não tê-las) são, de certa forma, as de menos importância. Em meu coração abrigo cicatrizes, que por vezes ainda sangram como feridas abertas. Dores de amores mal vividos, de significativas perdas, de sonhos naufragados, de desejos inconfessos. Essas, sim, são as marcas, que embora não expostas, incomodam mais. Mas é claro que também, a vida já vivida me transmitiu um legado positivo. Até mesmo o sofrimento e, principalmente ele, nos faz evoluir. Posso dizer, então, que meu maior ganho nesses anos tem sido a cada dia, me descobrir, me conhecer, me aceitar e sentir amor, verdadeiramente, por esse ser que enfrenta o próprio medo e se faz a cada passo mais inteira.
Ianê Mello
domingo, 16 de janeiro de 2011
O ENTARDECER
Pintura de Giorgio Dichirico
se projetam nas ruas:
das casas,
da menina e seu bambolê,
de uma estatueta na praça,
de um árvore frondosa.
Sombras da tarde
ocultam silêncios,
revelam desejos.
Nas casas e vilarejos
pessoas sós, encimesmadas,
famílias reunidas, acaloradas,
um casal apaixonado,
um bebê adormecido,
uma mulher que chora...
E o dia se queda morno
até tudo se tornar escuridão
tendo a noite como companhia.
Ianê Mello
CADAVRE-EXQUIS (12)
Sempre fingimos surpresa
Quando a realidade comove
Com subterfúgios inesperados
Que a vida é alvissareira
De redundâncias e novidades
A vida caminha
A passos largos
O tempo nos reserva
Segredos e surpresas
Infindáveis possibilidades
Tudo é mesmo possível
Quando o encontro acrescenta
Algo mais que a coincidência
E nos faz sentir intérpretes
De uma peça aquém do teatro
A cortina se levanta
Preparados para o ato
Personagens assumem
Seu papel, sua persona
Máscaras em lugar de rostos
Imagens algo casuais
Como se soubéssemos algo
Que não estava previsto
Em nossos sonhos impossíveis
Nos viesse acontecer agora
Entre atos e máscaras
Finda o ato
Na vida que prossegue
Na fruta que amadurece
Na página virada da memória
Beto Palaio e Ianê Mello
sábado, 15 de janeiro de 2011
CAMINHO DO SER
Resvala.
Recorre. Retem.
Ressurge. Recozija. Recobra.
Recupera. Regenera. Reduz. Rechaça.
Recompõe. Retrata. Repõe. Retranca. Retórica.
O gozo. O gosto. O sal. O pelo. O solo. O soco. O caos.
O corpo. O vício. O início. O sim. O não. O talvez. O capricho.
A vida. A morte. A espera. A plenitude. A ânsia. A loucura. A virtude.
O dia. A noite. A foice. O abrigo. A casa. A estrada. O pão. A escada.
Na porta. Na cama. No quarto. No sono. Na vigília. No sonho.
No vazio. No abandono. Na prisão. Na casca. No ventre.
A semente. A fruta. O alimento. A fome. A sede.
A dor. O amor. A fera. A bela. O frio. O calor.
O ser. O nada. O tudo. O impróprio.
A chama. O sol. O farol.
A luz. A estrela.
O encontro.
Ianê Mello
A vida, a morte a espera
Resvalam para a quimera
Quando em si se regenera
E o dia recupera
E se enche enfim de Sol
Com a chama de um farol
Ou a noite, com sua luz
Que ao luar se reduz
Ou só à luz das estrelas
Que a plenitude retém
Ressurge, recorre, recobra
E se regozija na obra
Que rechaça quando sobra
A loucura e a virtude
Na ânsia, na plenitude
Que nos corta como a foice
Se repõe e se retrata
Quando o corte é só de faca
E na retranca, se arranca
Com o início do vício
Que ao abrigo da casa
Depois de sair da estrada
E subir aquela escada
Que ao capricho nos conduz
Talvez sim, ou talvez não
Quando o alimento,é o pão
E a fome nos consome
E o gosto a sal nos vem
E a retórica do gozo
Cai no solo como o caos
Do soco em pleno corpo
Sem pelo, ficando absorto
Abrindo a porta do quarto
E ao deitar-se na cama
Na vigília ou no sonho
Quando se acabou o sono
E se fica no abandono
do vazio da prisão
e na casca e na semente
surge um vazio no ventre
e nos vem então a sede
e da fruta o bom odor
Com o frio e o calor
E toda a dor do amor
Que ruge como uma fera
Que vai surgindo do nada
E do impróprio encontro
Que se embrulha neste estudo
Da bela, do ser…..do tudo...
Joaquim Vale Cruz
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
CRESCENTE
Pintura de Kasemir Malevich
Terra. Tremores.
Tempos que vão.
Terrores. Terrenos.
Percalços a mais. Vidas
a menos. Saídas. Escapes.
Desvãos. Portas. Fechaduras.
Escadas. Precipícios. Perdas sem
perdão. Desacato. Melindres. Senões.
Temporais. Desiguais. Contornos nulos.
Rotos. Brotos. Broncos. Deslizes no sentir.
Parada. Sacada. Trunfo. Trinca. Coringa. Pinga.
Sem conserto. Condenado. Fracasso. Inútil paisagem.
Secreto. Bruxo. Feitiço. Mandinga. Batuque. Pai de santo.
E vai e vem e vem e vai. Um dia. Dois dias. Três dias. A casa cai.
Ianê Mello
Por causa desses tremores
e dos tempos de terrores
E de percalços a mais
De constantes temporais
E deslizes de terrenos
Com tantas vidas a menos
Sem escapes, nem saídas
Com escadas, portas, desvãos
Fechaduras, pega mãos
Tantas perdas, sem perdão
Precipícios, sem razão
Melindres e desacatos
Contornos nulos exactos
Sem concerto, condenado
E feitiço fracassado
Motivando triste fado
Secreto, bruxo feitiço
Por causa de tudo isso
Mandinga e pai de santo
E de rezas de quebranto
Tudo na enxurrada vai
E um dia ….A casa cai…
Joaquim Vale Cruz
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
POEMA TRÊMULO
Em momentos doados
Ao sublime do humano
Com açoites adocicados
Dos sonhos sem sono
O dormir longe da fronha
Na lâmpada amarelada
Gênio do bem e do mal
Verdade que se desvela
Em mistérios e alquimias
Tesouros de encantos
Por demais abrandados
Nada quebra o feitiço
Da meia-noite em ponto
Ao soar doze badaladas
Na solidão de ruas vazias
Uma cruz na encruzilhada
Uma alma perdida
Escuridão que avassala
Irrompe laços infindos
Em orações no altar
Ali um gato mia em assovio
Seus olhos são relâmpagos
Ultrapassados por pai e mãe
A memória sai pela têmpora
Raízes fundas no sol da manhã
Suspenso na bruma
Ao som soturno do corvo
Corpo que se abriga desde
O escuro do nada aprisionado
Revelado e liberto na aurora
Beto Palaio e Ianê Mello
CADAVRE-EXQUIS (11)
Pode ser apenas equívoco
Ficamos de nos falar
Embora sem compromisso
Quando aquilo aconteceu
Estávamos defronte ao muro
Tijolo por tijolo
Erguido solenemente
Por mãos humanas
Divisor concreto
De vidas que se separam
Corta-se o tempo em dois
Como em talho de gilete
Um dos tempos é acéfalo
O outro não tem pés
Ambos passam por passar
A vida estanca
Num breve instante
Entre o olho e o olhar
Sem pesos nem medidas
Apenas flui
Rio de encontro ao mar
Um oceano também duplo
Para lá, o mar cortado
Para cá, sua parte gêmea
Um caminho entre ambos
Frágil como a humana existência
Humano em corpo
Espírito que se dilui
Em luzes, sons e cores
Que vagueiam pela estrada
Num sentido de mão única
Beto Palaio e Ianê Mello
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
PROJEÇÕES HUMANAS
Pintura de Miguel Rondon
na sombra
esquecidas
extenuadas
sem sobressaltos
Mulheres que se agrupam
na sombra
contornos
imaginários
de vultos
Mulheres que se agrupam
na sombra
fazem nela morada
de cansaço
de canção
de quedas aflitas
Mulheres que se agrupam
na sombra
rebrilham em luz
interior
cultivam paz
em lugar da guerra insana
Mulheres que se agrupam
na sombra
seus filhos protegem
no ventre
nos braços
na barra
da saia
Mulheres que se agrupam
na sombra
e invadem sonhos
de pobres homens
que dormem
solenemente
ao entardecer
Mulheres que se agrupam
na sombra
e do pranto
recriam o riso
e do espanto
redescobrem a coragem
Ianê Mello
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
ALMA LIBERTA
Silêncio...
cadência
de ocasos
solidez
perene
fria lâmina
cortante
propósito
ao desfiar
dores
...
encarcerar medos
Viver é frágil
Frágil é
o corpo
morada
da alma
constância e
desalento
peito que arde
em flor
sopro no
vento
qual seca
folha
que se vai
ao cair
do outono
A vida na
pureza
desse instante
único
bela
por ser
perene
branca
luz
e
a alma
quando
finda
a vida
do corpo
se desprende
.......
e sobe...
sobe...
sobe...
....
e por fim
se liberta
Ianê Mello
Distante
Dispersa
Em silêncios nus
Que assim nos conduz
A ocasos silentes
Em mentes dormentes
Que em seus segredos
Encarceram medos
Ocasionando dores
De vários sabores
E tão frágil é
Que a conduz até
P’ra fora do corpo
Deixando-o absorto
Em seu desalento
Com tanto tormento
Que em seu peito arde
E sem qualquer alarde
Daquilo que sente
Se torna dormente
E como folha cai
E no vento se vai
Sem tino e sem dono
Em tarde de Outono
E ao chegar ao fim
Do corpo que a encerra
E que busca na terra
Descanso final
Acaba seu mal
E subindo…subindo
Acaba desperta
E por fim… se liberta….
Joaquim Alves Cruz
O DESPERTAR
Com açúcar
e com afeto,
meu café
numa bandeja
com flores
e um bilhete
de amor
Sente-se aqui
comigo,
ao meu lado,
em nossa cama
que ainda guarda
o perfume
de nossos corpos
O dia amanhece
em cores
vibrantes
em sons e tons
e os pássaros
a entoar
seu canto
Na varanda,
as flores,
o beija-flor,
nossa rede,
nosso ninho
de amor
Pedir mais
é improvável
nessa paz
que nos invade
Eu, você, nós dois...
Sós... em nós.
Ianê Mello
A doçura dos afetos
Temperada com café
Mesmo sem açúcar é
Dos meus sabores prediletos…
E quando à beira da cama
O nosso coração se inflama
Com nosso amor, junto a nós
E nossos dois corpos sós
Na união do costume
Emanam aquele perfume
Que resulta do amor
E tem aquele fervor
Que nos eleva e encanta
Sinto um aperto na garganta
Sinto calor, sinto frio
E um arrepio até
E bebo …mais um café….
Joaquim Vale Cruz
CADAVRE-EXQUIS (10)
Projetam, imagens, cabelos
Na tela imensa, do cinema
Cabelos negros, musicados
Passeiam aleatórios ao competir
Com atores, sérios, resolvidos
Cenas, rostos em close
O preto no branco
Sem o artifício das cores
Máscaras que se sobrepõe
A compor o personagem
Sensualismo de princesa, oferta
Regada a acepipes olivais
Conservada em alvoroço
Num dos quartos do desejo
Prorrogação do carnaval
Em festa é como termina
Cerveja para todos
No bar da esquina
Vê mais uma, meu irmão
Birita que afasta a solidão
Sozinhos, adiante, folhas
Farfalhantes, filmes ligeiros
Correm a três por quatro
Solos, solas, salas, selos
Quiseram ser, estampas, mil
Sobre a pele nua
Em deslumbres de cetim
A fragilidade que se esconde
Dentro do invólucro que a reveste
Beto Palaio e Ianê Mello
( Ilustração: Cena do filme Noites Brancas de Luchino Visconti)
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