O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A brincadeira




...uma borboleta faz cócegas no vento
O céu sorri como um pai orgulhoso

É de tarde.
Daqui de baixo
Eu vejo a brincadeira

— Parecem felizes

RODRIGO DELLA SANTINA

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Chuva Fina




Chuva Fina
Massageia-me o rosto
Parece tinta
Escorrendo na tela
Traz consigo, e dá-mo a mim,
O frio sem Forma

RODRIGO DELLA SANTINA

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Consoada




Quando a Inoportuna chegar
(por que tarda?)
Cruzarei calmamente as pernas — num gesto de desespero
(Tudo fora do lugar devidamente)
Tomarei um gole de vinho
E relatarei, como manda a etiqueta,
Toda a minha vida
Ficará entediada
Mas sua inconveniência, apenas um artifício.
Quer que eu pergunte:

— Por que tardou?

RODRIGO DELLA SANTINA

sábado, 22 de setembro de 2012

Luz e sombra




Frenéticas, opostas, se entrelaçam
A luz e a escuridão num só recinto...
Ao mesmo tempo acolhem e rechaçam
Os pudores que vão lhes consumindo...

RODRIGO DELLA SANTINA

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Estremecimento




É da minha personalidade provém da minha alma
Essa pedra que agita a água parada que sou.
Agita, mas para nada
Pois (como a água) não me desloco

                                        — Me desequilibro

RODRIGO DELLA SANTINA

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Revelação




Rubra
Como o ocaso
&
Dura
Como o silêncio
He
A lágrima que morre
Junto ao soluço estrangulado

RODRIGO DELLA SANTINA

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Diálogo Poético : Ianê Mello e Beto Palaio



PRAZER SOLITÁRIO


Em meio à espuma e risos de sabonete
eis a aprendiz de sereia distraída
nas travessuras do banho submissa
bela oferenda em curvas tentadoras

Na água que escorre em seu corpo desnudo
em suaves carícias a deslizar promessas
a fluir em sentidos despertos brandamente
mulher que se descobre e se desvela

Breves anotações de pingos
fugas delicadas na pele nua
plenitude de astros misteriosos
relâmpagos na carne traslúcida

A oferta do amor em solidão
escorre a água em comunhão
seu corpo arde sob a ducha
em completa entrega ao prazer

O gozo se anuncia num breve espasmo
no corpo que se contrai ao desejo latente
enquanto a água flui morna e indiferente
aos seus desejos plenamente saciados


IANÊ MELLO E BETO PALAIO

(14.09.12)

 *
Pintura de Niceas Romeo Zanchett

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Não há tempo




Não há tempo para dores inexpressivas
Não há tempo para canções altruístas
Não há tempo, nem espaço, para ideias a vapor
Não há tempo para rimas espelhadas
Acentos sonorosos linhas rejuvenescidas
Não há tempo para cortes educados nem cortes anarquistas
Não há tempo para sons geométricos perfeitos que não sejam
          [provenientes da íntima significação do verbo ser.

(O tempo é para mãos fortes
Talhadas no asfalto
Nos girassóis da ciência nos odores da tecnologia
No trono do Universo
O tempo é para olhos velhos de simplicidade
Para almas cândidas de versos).

Não há tempo para dores obscuras.
Há tempo para o Homem primitivo, no sentido mais original da
                                                                                                       [palavra.

RODRIGO DELLA SANTINA

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Diálogo Poético: Beto Palaio e Ianê Mello





UNIVERSOS PARALELOS


Noite e dia correm lado a lado
durmo com a noite do lado de fora
acordo com o dia entre travesseiros
ao meu lado desperta a inteira natureza
sentindo seu perfume eu me perco
em campos, florestas, flores convidativas

Anoitecemos em noites de desejos despertos
em carícias que emolduram sentires
Amanhecemos em manhãs de sóis dourados
a brilhar nos corpos nus a descoberto
em cheiros de almíscares e jasmim
jardins de delícias em campo aberto

Madrugamos enlaçados no mesmo pulsar
nossos corações são o centro de uma galáxia
a lide do amor nos embala a inventar mundos
contigo flutuo ao infinito sem que nos percamos
breve os nossos lençóis imitam tapetes voadores
somos um só desejo e dormitamos eternidades

Noite e dia correm lado a lado
em nossa cama desfeita pelo mais puro deleite
em nosso querer sem tréguas
em corpos que se aprazem sem cansaço
no universo a nossos pés submisso
onde lua e sol conversam amorosamente


Beto Palaio e Ianê Mello


*
Pintura de Leonid Afremov

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Dialogo Poético : Ianê Mello e Beto Palaio




A POESIA DA POESIA


Te encontro ao acaso após muita busca
a musa que canta seus domínios me guia
Encontro furtivo em noite de lua
acende a chama que invade o querer

Num círculo de entendimentos consentidos
pensamentos que esmaecem toda prosa
Na correnteza de sentires estreitam-se laços
fina sintonia que abarca amantes

A inteireza natural que convida o adormecer
Céu que sabe iludir em nuvens passageiras
Em encantos gorjeiam pássaros multicoloridos
nos abraços que perduram em amores fartos

Flores e faces competem em deslumbramento
espelhos que refletem palavras que escorrem
Natureza em contornos e doces sombreados
no amor que se propaga em versos divididos


IANÊ MELLO E BETO PALAIO

*
Pintura de Marc Chagall

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Dialogo Poético : IANÊ MELLO E BETO PALAIO



POEMA PERDIDO


No fundo do poço
em sonhos dormentes
perdido no imaginar
na sede que cega
a fonte inteira adormece.

O fogo da saliva
em beijos jamais esquecidos
ensaio de línguas
onde o espelho é romance
na faca o corte.

O batom no guardanapo
no cio o desejo
mãos tateiam inalcançáveis
com um gosto de sal
momentos dispersos ao nunca mais.

Volúpia de amores gris
mergulham em viagem desconhecida
emaranhados em teias
ao sorver horas infindas
na tessitura da carne que fraqueja.


IANÊ MELLO E BETO PALAIO

(10.09.12)

*

Pintura de David Jay Spyker.

Diálogo Poético : Ianê Mello e Beto Palaio




BELEZA IMPAR



arrimo de lindeza
lide de rimas
rito de linhas
uva de rios
luva de fios
silvo de rainhas 
ponta de saliva 
belina na neblina
corda que afina
ganas de bailar
mar de havana
raiz fincada
areias penteadas
lenha parideira
fome vencida
nome aparecido
veias destronadas
grelha resfriada
amor de repente
fogo de acender
cortina de fumaça
olhos de mirar
boca de beijar
sentir que aflora
tempo que demora
vontade de ficar
ondas de arrebentar
mares de nadar
corpos de flutuar
desejo saciado
loucura desavisada
mente deturpada
anseios de voar
cama de armar
rede de amar
vontade insana
corpos mútuos
açude todo mar
flor desabrochada
ternura arraigada
sede de viver
tremores abrandados
luto ensaiado
coração a bater
amor de se entreter.



IANÊ MELLO E BETO PALAIO
*
Ilustração de autoria desconhecida.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Diálogo Poético: Adelia Prado e Ianê Mello




O VESTIDO 


No armário do meu quarto
escondo de tempo e traça meu vestido
estampado em fundo preto.

É de seda macia desenhada em campânulas
vermelhas à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito,
meu vestido de amante.

Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.

ADÉLIA PRADO



VESTIDO EM TRANSPARENTE


Em meu vestido rendado
de seda e de paixão
escondo um amor guardado
um amor em erupção

Amor vermelho encarnado
formosa rosa em botão
ao toque tão delicado
da maciez de tua mão

Nele meu corpo e desejo
escondem-se do tempo passado
e ao vesti-lo, num lampejo
mantenho o sonho acordado

Ainda guarda a transparência
que na fina seda se aninha
do perfume sua essência
delicadeza inteirinha minha.


IANÊ MELLO

*
Pintura de Michael Austin




Diálogo Poético: Ianê Mello e Joaquim Vale Cruz



(A)MARES


Em profundezas
adentro

imenso
imersa...

Mar-Cio

seu nome
sal e areia

enlaço versos
despida

a alma
branca espuma

no mar
do (a)mar

mar(po)esia


Ianê Mello


(06.09.12)


Em profundezas adentro
(A)mares em que me concentro
Imerso num tal sentimento
tão imenso como o firmamento
É mar, é cio
é um arrepio
é sal, é areia
com que me enleia
Seu nome em versos enlaço
e se está despida, o que é que eu faço ?
a alma transformo em espuma macia
em mar de (A)mar, mar de poesia…


Joaquim Valle Cruz


* Pintura de Salvador Dali

Diálogo Poético: Ianê Mello e Beto Palaio




ODE AO IMENSO AMOR



A minha língua plana
em sua língua insana
desejos intumescidos
perdidos em amores febris.


A volúpia lentamente se apossa
e você de mim se apodera
em lânguida entrega me desfaço
na fluidez do gozo que se alastra.


Sentidos dispersos ao amor
em meia-voz ao seu ouvido proclamo
frases desconexas em voz tremula
ao êxtase inadiável deste amor insano.


Na noite que se despede mansa
derramo-me na paz de lençóis silentes
enlaçados corpos em doce sono
paixões adormecidas em abandono.



IANÊ MELLO E BETO PALAIO

*

FOTOGRAFIA DE MAN RAY.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Eu, Epimeteu acorrentado




Ó magna corrente! Ó sublime ferro,
Que trava relações com minha carne!
Ó sangue abençoado, que a forjar
Me está a alma para este Novo Império!

Eu vos invoco! Vede quão sincero
E justo é o meu tormento, como arde
Em mim o Fogo (aceso, a crepitar)
De eras remotas, de hoje e dos Mistérios!

Império, ó divino Império, tábua
De Liçoens, muro redemptório, báculo
De fé, deixa-me preso a este rochedo!

Guarda-me ao Pensamento, à Voz! Guarda
Todas as Cores e todos os Sons!
Dize-me da Sorte, como um Oráculo!

RODRIGO DELLA SANTINA

domingo, 2 de setembro de 2012

Diálogo Poético : Adélia Prado e Ianê Mello




O SONHO


O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.


ADÉLIA PRADO

ConVersando com Adélia Prado.



Sigo sonhando sonhos
amores enternecidos
sem abandonos
asas de pássaro branco
numa bela manhã de outono.


Ianê Mello

*
Pintura: Phyllis Barnard

Dialogo Poético : Ianê Mello e Joaquim Vale Cruz





O REVERSO DO CORTE


Assim a pele roça a carne nua
exposta a feridas entreabertas
Não há rosas sem espinhos
e fere a rigidez no amor que cala

fluído que escorre sem sutura
vermelho sangue
corte profundo
marcas indizíveis

na fenda de desejos  obscenos
a carne é fraca e cede
 a sede que devora
a garganta seca

as mãos que anseiam ávidas
sem demora
encontram seu conforto
no colo que as acolhe

o corpo se encolhe
em lânguidos prazeres
no vértice entre as pernas
perde-se em  delícias


Ianê Mello


(02.09.12)


A carne nua em ferida entreaberta
é sonho doce, que logo o amor desperta
e a rigidez que essa sensação nos traz
desperta desejo obsceno que tanto satisfaz

Então a fenda aberta que escorre sem sutura
rosa, vermelho sangue, que o tesão apura
em seu corte profundo de marcas de prazer
torna a carne fraca em terno enlanguescer

E a sede que devora nossa seca garganta
encontra seu conforto e o pudor suplanta
e as mãos que ávidas anseiam, sofrem na demora
aguardam os afagos, que o outro amante implora

É então que o corpo em lânguidos prazeres se encolhe
e no vértice entre as pernas o cetro flamejante acolhe
Porque os dois felizes amantes inventam tais delícias
e em expressões vibrantes se perdem em carícias


Joaquim Valle Cruz
- 2012-09-02


Pintura de Salvador Dali
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