O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




quinta-feira, 18 de março de 2010

Prefácio



Ah, se fosse somente a morfologia dos sentimentos...
Amar, simplesmente amar, como seria?
Ah, se então se revelassem os segredos da felicidade,
Que se daria?
Antes, há que incorporar-se à sintaxe do dia-a-dia,
E tentar sobreviver às sutilezas dos complementos,
E apurar os predicados e selecionar bons adjuntos.
 

Há por bem que se traduza a semântica dos olhares,
A pragmática dos sorrisos, como eles se abrem;
Convém que se classifique um aperto de mão,
As intenções dos sujeitos,
As entonações dos predicativos,
Os porquês dos superlativos,
A transitividade dos que se aproximam...
 

Viver é evento de mil conjugações.
É ato irregular, intransitivo, indefinido,
É substantivo de qualquer classificação;
Não tem gênero, e seu número é o mundo inteiro.
Viver é gramática que dispensa professores,
Todavia, exige amores, dores, suores;
Espalha-se em desinências múltiplas e formas livres,
Avança para além dos objetos, das pessoas, dos modos, dos tempos.
 

Sendo assim, conjugação simples,
Viver não é mais difícil que falar,
E cai bem como advérbios, para início, meio, fim e depois;
E tem caminhos e facetas como pronomes;
Está no contexto, fora dele, tentando fazer parte.
É termo simples, sendo indeterminado e palpável.
 

É comum de dois ou de todo mundo só;
É vocativo, clamando por espaço;
É aposto, reforçando o inexplicável;
É período simples e composto.
Está por trás das linhas,
Deslizando entre as vírgulas,
Anterior ao discurso,
Após o ponto final.
Na re-escritura.



Ricardo Fabião


Diálogo Poético - colaboradores: Ricardo Fabião

3 comentários:

Ianê Mello disse...

Belo poema, Ricardo.
Bjs

Joe_Brazuca disse...

Simplesmente GENIAL !...mandou bem, Fabião !



abs

Jairo de Salinas disse...

A nossa língua é rica e bela; assim como o seu poema!
Abraços!

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