do sal, de como mais morte há no vivendo,
do rio só descendo, de tendo de ser sertão,
um João de pena na mão versa um vão,
tece um universo...
Basta só que uma palavra sua lance
sobre outra palavra a ponta densa do fio,
e essa que perceba o compasso avance,
que receba o passe da primeira alcance,
que esticada em verso saia em revoada,
que lançada possa tal palavra seja,
tão deixada à outra quão liberta esteja,
que repasse o fato itinerante à rede,
que palavras juntas sejam seus novelos,
e que novelos rolem de gerar sentidos,
indo a mais palavras para mais lugares,
se lançados sobre mais destinos possam,
de um tempo ao outro repassar o verbo,
que sentindo lancem ao seguinte a chave,
que destravem a porta para sol adiante,
e que mais palavras desnoveladas sejam,
velejando em versos para cais distantes,
que se façam mundos sobre tais novelos,
e as palavras livres saibam ser milhares,
que armada a tenda caibam mais palavras,
e que todas elas sendo tão modelos,
que carpindo cores, que empinando chaves,
que um sol João sozinho faz um verso,
e as palavras juntas de tecer um mundo,
de bater as asas sob o tom de sua pena,
e que vezes tudo vezes céu silêncio,
vezes só poema, todo universo.
Ricardo Fabião
Para João Cabral de Melo Neto, em algum lugar... autor de "Tecendo a manhã", poesia com a qual dialoga "O empinador de céus"
Na foto: João Cabral de Melo Neto
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Palavras Vivas
Fio a fio
Ponto a ponto
Com a paciência de uma tecelã
Letra a letra
Palavra a palavra
Desenham-se em versos no papel
Nas mãos do poeta que os tece
Que essa palavra crie vida
E, de boca em boca, se espalhe
E o Universo inteiro possa abraçá-la
E numa união de pensamentos e emoções
Tornem-se uma única voz
Que eu uníssono ilumine o mundo
Revelando os mistérios do viver
Aproximando os povos, as raças, os credos
Destruindo preconceitos e pré-conceitos
Derrubando valores arcaicos e sem sentido
Unindo forças para construir
Um novo mundo em versos
Todos juntos em harmonia
Com a paciência de uma tecelã
Com a alma entregue à certeza
De que o Universo se transformará
E num belo tapete mágico
Voaremos todos em busca de nossos sonhos
E, juntos, construiremos o mais belo porvir.
Ianê Mello
Diálogo Poético - Colaboradores: Ricardo Fabião, Ianê Mello
10 comentários:
amo esse cara...
muito boa homenagem, Fabião !
abs
Espetáculo de postagem essa.
Parabéns!
Tenha um dia feliz =)
Ricardo,
obrigada por nos presentear com tão lindo poema.
Belíssima homenagem.
Cada vez mais alegro-me em tê-lo conosco.
Beijos.
Obrigado, Ianê...
eu é que fico cada vez mais grato por participar deste universo, bem como por poder aprender mais com tão talentosos poetas.
Aqui eu só cresço.
Beijos.
Ricardo.
Ricardo,
Você é um poeta maravilhoso, com certeza.
Aqui, todos nós crescemos.
Diante de tão belo poema,tentei , humildimente, fazer um diálogo.
Espero que goste.
Beijos.
Ianê, em "O empinador de céus", as palavras tinham ido a muitos lugares, mas sua complementação me fez enxergá-las sobre um tapete voador, distribuindo, como você disse, vida por onde passa.
Peguei 'carona' no seu sentido...
Belo poema!
Como a gente 'voa' dialogando versos!
Beijos.
Ricardo.
Ianê...
Quase esqueci: o título do teu poema (acima) está diferente do que foi postado abaixo.
Confira.
Beijos.
Ricardo,
Que bom que pude , de alguma forma , complementar o seu poema já tão completo e lindo.
Voa e voa alto, amigo, nas asas da poesia!
Obrigada.
Um dos mais criativos e inteligentes poemas que já tive o prazer de ler nestes Diálogos; apesar de lembrar explicitamente o texto do pernambucano João Cabral, dele se desgarra e ganha autonomia poética e beleza própria.
Agradeço por seu comentário, Marcelino.
Quanto à semelhança, foi proposital...
O poema de João Cabral diz que um galo sozinho não tece uma manhã. Eu respondo diretamente ao poema, por isso a explícita aproximação com o mesmo, afirmando que um João "sozinho" consegue tecer um universo. Achei interessante manter os mesmos 'fios' da tessitura original, como se eu fizesse parte do mesmo instante poético: um diálogo de fato.
Abraço.
Ricardo.
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