O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




terça-feira, 2 de março de 2010

Espelho cilíndrico


Pintura de Rene Magritte

a realidade não pode traduzir
já que os sonhos vezes mil são minhas trilhas
os verbos não conseguem descrever
já que meus desejos mudam com os ventos
as virtudes não sabem legitimar
já que meus desvios têm múltiplas faces
os dias não alcançam decifrar
já que meus passos acendem e apagam no tempo

nem que eu escreva mil poemas
distribua meu desenho em mares de panfletos...
pouco terá alcançado o mais profundo de mim
porque um texto tem intenções demais
porque uma estrofe tem rimas banais
mesmo um poema, nem este é capaz
sobre nós mesmos tudo que se diz é gasto
caminho longo, horizonte vasto...

acima das minhas palavras estão meus olhares
o que eles trazem
além dos meus verbos gritam meus silêncios
o que está na alma
antes dos meus projetos trago minhas mãos
o que elas produzem
sobre meus anseios avançam minhas estradas
o que elas concluem

a meu respeito embora nunca apresentado
o instante calado é tanto quanto sou e vivo
é sobre mim por dentro e fora o real
o mais próximo das mentiras do espelho



Ricardo Fabião




Como descobrir minha própria face
em meio a tantas máscaras?
Sonhos e realidade se fundem 
num quebra-cabeças por vezes difícil de decifrar
Será que o que vejo é minha imagem
refletida no espelho, meu próprio avesso?
Ou ao mirá-la já não me reconheço

Minha imagem de mim se perdeu
Sou  o que o espelho não mostra
Sou o que os outros não veem
Sou o que escondo, que me atemoriza
Sou além do que me conheço
e a cada dia me descubro mais distante
da imagem que de mim fazia
E minha vida assim transcorre,
numa eterna descoberta do vir a ser.



Ianê Mello  



Diálogos Poéticos - Colaboradores: Ricardo Fabião, Ianê Melo



4 comentários:

Paulo Tamburro disse...

ESPETACULAR!

Seu blog merece, que venha por aqui muita vezes.

Afinal, não temos tantos bons textos com estes seus à nossa disposição.

Caso queira me visitar, meu blog é de humor.

Um abração carioca.

Ianê Mello disse...

Lindo seu poema! Parabéns, amigo!

Beijos.

Ricardo Fabião disse...

Agradeço, não sei a Ianê, não sei se a outro, pela inserção da autoria da pintura, da qual eu não tinha conhecimento.

Abraço.
Ricardo

Ricardo Fabião disse...

Ianê... que sintonia extraordinária...
seu poema foi tão bem incorporado ao meu, que não sabemos se começamos a ler pelo meu ou pelo seu. De modo que a viagem dos que forem lê-los será mais longa e profunda.

Ave, poetas!

Beijos.
Ricardo.

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