O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




segunda-feira, 29 de novembro de 2010

MERDA DE ARTISTA

Piero Manzoni "Merda d'artista "



O artista é proeza de piches
Gruda fetiches com frenesi
O toco do rabo do Totó é arte
No microondas esquenta píxeis
Ócio feito de metal corrosivo
A arte mora na mansão ao lado
Itens. Se lhe interessa enlatar
Onde o sacrifício do artista
Será sangue, suor e dejetos
A arte fica para mais tarde.

Tetos cravejados de pedras
Esculturas que parecem planar no ar
Paredes pintadas pela cidade
Piero Manzoni e sua lata
de conteúdo improvável
Arte que inova e se sobrepõe
Arte limpa, clean, politicamente correta
Arte que desperta o inconsciente
Arte que mente e inventa causos
Arte profana, "tapa na cara", sacana.

Rala a febre do feno no capim
Uma tessitura de representação
Cruza o mercado de arte assim
Longas filas na porta do método
Decididamente vanguardistas
Seguindo o rumo dos píncaros
Sagrados nos afazeres de barro
Mofados com a solidão de atelier
São Midas que repetem além
Espertos no traçar do artista.

Produção solitária e por vezes insana
Loucuras de mentes inquietas
Van Gogh, Dali, Frida Khalo
Expressões doridas de vidas
Um prato feito para Jung decifrar
O inconsciente coletivo ali expresso
Almas revestidas de coloridas tintas
Exposição e confronto, contraponto
com a linearidade e placidez de um Monet,
que por tal fato não tem menos valia
mas apenas difere e individualiza.

Encontra-se neste vernissage
Uma nova moda inventada
Como num canteiro palpável
Para apoiá-lo em prêmios-egos
Dos objetos que são de arame
Concreto, betume e implicações
De mentes em fragilidades
De montes que são transferíveis
Mediante a fé o artista mede
Dores que a arte defeca.

Escárnio, protestos, traumas, amores, dores
a arte se encarrega de suas manifestações
Telas, escrituras, esculturas, música
Arte mais pura e concreta, discreta e extravagante
Abstrata e inquieta, pulsante e liberta
Terra, cinzas, tintas, papel, cobre, tela, som
Transitar entre o céu e a terra, elevar o espírito
A arte como ofício do artesão que modela
em matéria, seja ela qual for, não importa
e nela transpõe muros da realidade.



Beto Palaio e Ianê Mello

4 comentários:

Lou Albergaria disse...

MAGNÍFICO!!!!

Amei, Ianê e Palaio!!!

A Arte é mesmo infinita e apresenta múltiplas linguagens e nenhuma, ao meu ver, é "melhor" ou "pior", apenas cada qual com seu estilo e espírito, mas todas buscam a mesma transcendência do Ser.Isso é o que verdadeiramente importa: a expressão do sentimento. Ainda que poucos o compreendam. Mas arte não se explica...arte se sente...ou não...

Beijo grande!

Parabéns pelo belo post!

Jairo Cerqueira disse...

Concepção singular do artístico.
A Arte é mesmo tudo e o nada amalgamados. "É como uma lata que pode caber o incontível", assim disse Gil.
A vida e a arte apresentam diferentes semelhanças.O que mais me atrai na Arte é que a beleza sempre perde para o belo.
Maravilha de texto.
Um abraço, dupla maravilhosa!!!

Beto Palaio disse...

Grato, Lou... Grato, Jairo...

Beleza de considerações...

Beto Palaio disse...

Grato, Lou... Grato, Jairo...

Beleza de considerações...

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