O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ESTREITA PASÁRGADA

Foto de Cartier Bresson



O quarto de lua desaparecia
Aqui e ali o céu inconstante
No piso úmido de chuviscos
A pesada porta de madeira
Narra seus gonzos de choro


E quando amanhece o dia
nublado em suas visões
apenas mais um dia
Num céu coberto de nuvens
Frias e pálidas...
Olhos que fitam perdidos 
o amanhã sombrio
A espera que cansa
solidão que arde
mãos em abandono
ao findar a tarde


Sentimentos, razões, emoções
 Para o perfeito desbotado
Ao chafariz de aguardentes
Festas, consórcios e guerras
Algo além das quimeras
Numa humanidade imensa
Que transborda dos metrôs
Dos shoppings, dos escritórios,
Das vilas, dos becos, e clamam
Por uma visão que descortine
A redenção da pátria Celestial


O despertar é doloroso
no céu que se abre em fendas,
por detrás das nuvens
deixando entrever estrelas
O retomar é lento, vagaroso
contra todos os desperdícios
ainda no ar um cheiro ocre,
forte e corrosivo


Por mil terras de pesadelo
Sonhos com a grande lama
Pasárgada fria e descontente
Refaz seu lume no inverno
Mora perto de nossa casa
Seu canteiro com um aviso
para que nunca brote ali
uma rosa, um gerânio
um cravo, uma hortência 
um comigo-ninguém-pode


É assim de tempo em tempos
a terra se torna árida, improdutiva 
mas sempre chega a nova estação
um novo amanhã desperta
e se abre em flores e perfumes
numa terra antes inóspita
que agora, ternamente, acolhe suas sementes
é Pasárgada na gestação de seus frutos




Beto Palaio e Ianê Mello



Rua escura, triste, insegura
esta Pasárgada, 
que não é de Ciro
mas em que miro
a solidão...
Tanta tristeza
tem de certeza
desilusão...
De almas perdidas,
tristes,vencidas
sempre à procura
da sinecura
que não existe
mas que resiste
numa ilusão
que não tem fim...
E tudo acaba
nesta tristeza
de um homem só
junto de um gato
triste retrato
da humanidade
que em verdade
não encontrou
forma nem jeito
de ter respeito
e dar abrigo
livre de perigo
a todo o ser
que se nasceu
deve viver
mas sem sofrer
tormento assim…






Joaquim Vale Cruz

2 comentários:

Beto Palaio disse...

Mo, ficou lindo... Você é linda!!!

Ianê Mello disse...

Lindo...
Tudo é lindo entre nós.
Bj.

Related Posts with Thumbnails