O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




domingo, 28 de novembro de 2010

A BOSTA É POP!


Minha poesia não é pra ser recitada em
Saraus ou Academias de Letras.
É pra ser lida, sentida
No fundo do estômago
No útero, no saco escrotal.
Minha poesia vem das ruas
Avenidas encardidas
Lamacentas
Limo, excrementos
Vômitos esverdeados
De quem tem sede de vida.
Minha poesia não é de métrica
Nem rima rica
A pobreza define e alimenta os versos
Tão indigestos que
Dão azia, caganeira
Larica.
Minha poesia é kirsh
Sem cores de Almodóvar
Tudo em preto e branco
Cadelas e cachorros não enxergam colorido.
Minha poesia é pop.
A Bosta é pop!
Todo mundo faz e
Cada qual a sua maneira.
Mais dura ou mais mole
Depende do que se comeu na véspera.
Minha poesia pode ser diluída
Na cerveja, na cachaça
Na garapa vendida na feira e
Mais dois pastéis
bem grandes
que possam caber perplexidade
e espanto.
Minha poesia está sempre indignada
Aterrorizada
Por tanta genialidade óbvia
Que só vive de conceito
Na pia batismal
Sacramentando o egoísmo e a sordidez;
O olhar míngua ao dar nome
ao próprio umbigo.
Minha poesia está sempre de olhos arregalados
Sem dormir a canção de Drummond
Que Me fez acordar para sempre.
Só a criança em Mim dorme
Porque há mais de um século está morta.
Minha poesia é feita do lixo!
Faz desmoronar o planeta insustentável
Empobrecido pelo ser humano
E seu medo de amar.

Meu poema é o dejeto que não se recicla!


Lou Albergaria
in O Cogumelo que Nasce na bosta da Vaca Profana

OUÇAM NA VOZ DE SAULO TAVEIRA:

6 comentários:

Janaina Cruz disse...

Invejei Lou Albergaria, mas inveja branca claro!
Poesias são mesmo para serem lidas e incorporadas ao nosso sentir, isso apenas.
Escrevemos para encantar, enamorar, não para competir.
Ainda ei de descobrir se nas horas de amor maior, alguém sussurra nos ouvidos amantes algumas de minhas letras quentes e preferidas...
Amei esse santinho, hei de segui-lo para sempre...

Ianê Mello disse...

Lou,
poema corajoso, sem meias palavras.

Um tapa na cara, um tiro no escuro...

Parabéns!

Beijos.

Lou Albergaria disse...

Janaína, depende da hora e do amor... as palavras mais desejadas, às vezes, são as mais 'ofensivas'.


Ianê,

Obrigada pelo incentivo e carinho!

Você é sempre um encanto!!!


BEIJO GRANDE A TODOS!!!!

Beto Palaio disse...

Tudo para estar na sua coerência. A arte é pobre, Lou, a arte nunca foi rica... Van Gogh disse: "a pintura é uma atividade suja"... Há nesse afirmar a sabedoria de quem viu na arte de sujar uma forma de transformar dejetos em ouro... Uma alquimia portanto. O Baravelli disse bem mais tarde "tudo que serve para sujar, serve para pintar", pensando quem sabe até em escrementos, em limo do canto de jardins, na lama que rodeia as bocas-de-lobo. De qualquer forma a arte sempre será pobre, sempre será uma sujidade que a limpeza conceitual consagrou... Beleza de desabafo o seu poema.

Anônimo disse...

Belas palavras... acredito que retrata muito do que vemos na poesia contemporânea!

"A pobreza define e alimenta os versos" - não há riqueza maior do que perceber isso...

beijos

Lou Albergaria disse...

Palaio, Muito obrigada pelo incentivo!
Também concordo com você. A Arte esteticamente tão perfeita e coerente me entedia. O ser humano carrega muito mais inquietações e perguntas do que respostas, daí a necessidade de muitas vezes a expressão se dá de forma apavorada e nebulosa, transbordando mais dejetos do que belas matérias-primas. Mas sempre acredito que desses dejetos eclodem os melhores sentimentos aprisionados em nós.

GRANDE BEIJO!!!



Coffe-break,

nada melhor que uma "parada para o café" lendo poesia...

Obrigada pelo carinho!

BEIJOS!!!

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