A Dor Da Saudade
Pai, ainda me lembro daquele dia
em que criança deitei em seu colo
e você me contou estórias de ninar,
acalentado meu sono, me fazendo adormecer
Pai, ainda me lembro do seu rosto
suado e cansado da luta diária,
de seu terno amassado,
de seu olhar terno e amado,
quando junto a mim sentava
na escada do prédio em que eu morava
e brincávamos de escolinha...
Geralmente, era eu a professora
Era nossa brincadeira favorita!
Pai, tornei-me professora como você,
pois com você aprendi a gostar do ofício
Por sua dedicação em ensinar-me
e através de nossas brincadeiras,
vi que esta era a minha aptidão
Pai, como esquecer seu sorriso,
seu rosto marcado pelo tempo,
seus cabelos embranquecidos
Como esquecer suas palavras de conforto,
sempre amigas e confiantes,
quando em meus momentos de insegurança
me sentia incapaz de fazer algo
Ainda escuto você a me dizer...
" Vai, filha, você é capaz!"
Como esquecer seu companheirismo,
sua força a guiar meus passos
O tempo passou e com ele
seu vigor foi diminuindo,
em seu corpo vencido pelo cansaço
se curvando com o peso dos anos
Sua memória se enfraquecendo
Sim, pai, para mim antes parecia
que você não envelhecia,
que o tempo para você não pesava
Você vivia com tanta intensidade,
com tanto prazer em viver
Não se queixava de nada
Nenhuma dor, nenhum momento de depressão
De repente, tudo mudou
e tive que abrir os olhos
Tive que enxergar que o seu tempo,
que a sua vida começava a decair
Não tinha me dado conta ainda
que um dia não teria mais
a sua presença tão querida
e que esse dia fatal poderia
estar mais próximo do que eu imaginava
Pai, ainda me pego chamando seu nome
mas hoje não escuto mais a sua voz
Não posso mais olhar seu rosto
Sentir suas mãos em meus cabelos
Sorrir com seu sorriso franco
Me sentir amada, acalentada
Ah, pai... como você me faz falta!
Ianê Mello
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