O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




sexta-feira, 21 de maio de 2010

O réu

                 
           
                 O morcego que sugou o teu sangue
                    Propagou que ele era insípido
                    E se arrependeu profundamente
                    De ter seus glóbulos nos dentes
                   
                    O abutre lançou fora toda carne
                    Que houvera consumido do seu corpo
                    E agora entristecido
                    Amaldiçoou a si próprio
                    Depois de achar-te intragável
                 
                   A natureza rejeitou como adubo
                   O seu mísero e pútrido cadáver
                   Não quis corromper a terra
                   E oportunizar sob qualquer forma
                   Um provável retorno seu
      
                  Agora, criatura...
                  Tens como companheira a solidão
                   E nessa dimensão hermética para os vivos
                   Aguarda que as portas de um tribunal
                   Venham a se abrir e, em fim possas ser julgado
                   Pelo crime que se dedicou a cometer
                   Durante quase toda a sua existência

                   Ter aliciado muita gente a crer e amar
                   O ser humano que você nunca foi.


Jairo Cerqueira


O Morcego

... refaz sua negra manta noutro cio e
voa feliz: - (É o prazer do beija-flor!).
Depois lança seu sopro a refrescar
as feridas que sangram!... e jorram!...

As presas do mamífero procuram
outra vítima: - as mamas da donzela...
Afia novo sorriso: - quer um dócil
e brilhante lençol avermelhado!

Oh noite! – Mãe de garras boquiabertas, (...)
sorve eufórica a sopa de quimeras
dos mortos-vivos nas trevas de cetim...

Usa o disfarce de luz desgraçada e
tem nas mãos de pelica um perfume:
- é a ilusão do zumbi antes da aurora
Machado de Carlos
Publicado no Recanto das Letras em
Código do texto: T1814837

 
Diálogo Poéticos - Colaborador : Jairo cerqueira( poema e imagem)-Machado de Carlos - (Soneto).

6 comentários:

Ianê Mello disse...

Jairo,
belíssimo poema: vindo das entranhas...profundo.

Parabéns!

Bjs.

Anônimo disse...

Visceral, hem, Jairo? Para detonar qualquer um. Ficou bom.
Abraços,

Zélia Guardiano disse...

Jairo e Machado
Vocês são feras! Nossa...
Parabéns!
Abraços

Ricardo Fabião disse...

Jairo, se o personagem foi rejeitado dessa maneira com relação ao seu corpo, que se fará então de sua alma? Certamente não haverá escuridão que lhe dê abrigo...
Machado, você trouxe a noite como complemento ao primeiro texto, e isso, de modo muito poético e particular. Carnal; dilacerante. Gostei muito.

Grande parceria.
Ótimos textos.

Abraços.
Ricardo.

Marta Vinhais disse...

Brilhante...
A dor forte a falar em cada uma das palavras...
Parabéns...
Beijos e abraços
Marta

Jairo Cerqueira disse...

Plagiando João Bosco:
"Obrigado genteeeeeeeeeee"! rsrsrs
Obrigado a todos pelas importantes participações.
Machado,seu bom texto me fez lembrar Augusto dos Anjos.Um abraço.
Ianê, obrigado pelo abrigo poético. rsrsr

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