O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




sábado, 16 de julho de 2011

Sábado Poético (5) - Facebook - Livre criar é só criar(5)




Vamos ler esse texto com atenção. O que ele nos faz sentir, o que nos desperta, o que vemos nele em comum com nossos próprios sentimentos.



“Conheço apenas o medo, é verdade, tanto medo que me sufoca, que me deixa a boca aberta mas sem fôlego, como alguém a quem falta o ar; ou noutras alturas, deixo de ouvir e fico subitamente surda para o mundo. Bato os pés e não ouço nada. Grito e não percebo nem mesmo um pouco do meu grito. E também às vezes, quando estou deitada o medo volta a assaltar-me, o terror profundo do silêncio e do que poderá sair desse silêncio para me atingir e bata nas paredes das minhas têmporas, um grande, sufocante pavor. Eu então bato nas paredes, no chão, para acabar com o silêncio. Bato, canto, assobio com persistência até mandar o medo embora.”   

(Anaïs Nin in Casa do Incesto)


MEDO




O sapo paralizado está
ás margens do lago ele só pisca
nada se mexe
tudo acontece
ruído vem lá dentro
língua mostra a face
tudo renasce
Ele nada poderá fazer
apenas crer
crendo vai adentrando e se molha
respira fundo e canta
o espanto foi embora
Medo foi descriado
todo ele agora é só sapo-croc-croc


Dedico a você Ianê Mello.

Giselle Serejo

  
SALTO


Queria saltar
Pular as muralhas que cercam
E me cerceiam a vida,
que tolhem meu coração

Mas tenho mêdo
O que haverá
do outo lado do lago ?
No meio da escuridão

Então me recolho
Nesta régia folha,
Um mundo meu, só meu
Que me envolve, que traz paz
e segurança prá esperar

Guardo forças,
Me preparo,
Breve, breve,
Vou saltar

Sem mêdo .

- Ricardo Daiha -

* ... à Yasmin 



ENFRENTAMENTO 




O medo da perda
nos leva a perder
O medo de ter medo
nos leva a temer
O medo de ousar
nos leva a prisão
O medo de ser
nos leva a ilusão
O medo de amar
nos leva a solidão
O medo de sonhar
nos leva a não ação
O medo do prazer
nos leva a decepção
Onde nos leva o medo?
A uma estrada sem retorno
A uma vida na escuridão
A um não enfrentamento
A uma vida sem razão
O medo não pode ser nosso dono
O medo não pode nos imobilizar
É enfrentando o medo
de olhos bem abertos
com coragem e vontade
que o venceremos enfim.

Ianê Mello 

Crédito da imagem: Pintura de Ans Markus


SOMBRA


no céu estrelado a lua
nas ruas desertas o silêncio
na parede caiada a sombra
a sombra de mim que não sei
que penso ser de alguém que não sou
a sombra que me persegue e precede
silente, sinistra, persistente,
a sombra que transpiro e se cola
nos meus passos com pressa
no meu coração em sobressalto
nos meus lábios trajada de canção
que ciciada me acalma e acompanha
para sempre.


Pepe da Néte



Porque hoje é sábado
esquecerei de todas minhas dores
que assolam minha excluída periferia
visitarei antigos e apaixonados amores
que sonham em parques pomposos, à regalia

porque hoje é sábado
desprezarei as crianças famintas e pobres
que furtam restos à porta d’um mercado
reverenciarei os abastados, ricos e nobres
que guardam à morte, seu dinheiro endeusado

porque hoje é sábado
cobrirei meus olhos a toda mazela
afastarei dos torpes de vida podre e cruel
lembrarei de seus seios maduros, à janela
e de seus dulcíssimos beijos lambidos a mel

porque hoje é sábado
desprestigiarei as colunas políticas
que mostram a sanha de animais perversos
navegarei solene por águas míticas
onde os poetas pescam seus perenes versos

porque hoje é sábado
ensurdecerei às sirenes de hospitais nefastos
que não atendem a quem necessita
perfumarei-me com essência de fino alabastro
onde singra teu cheiro que tanto me excita...

porque hoje é sábado
calarei meus berros de medo insano
que bradam bélicos e azáfamas de alardes
cantarei a teu corpo belo, teso e profano
todo prazer que dentro de mim, pede e arde...

Porque hoje é sábado
claudicarei minha galopante e senil velhice
que teima em me devorar por dentro
viverei hoje intensamente minha eterna meninice
como se fora eterno, como um melodioso alento...

Porque hoje é sábado !

 Joe Canônico

Um comentário:

Marcelino disse...

Na minha consideração, os textos de Giselle Serejo e Joe Canônico distanciam-se um pouco ad temática e dos textos de Ricardo Dahia, Ianê Mello e Pepe da Néte; talvez eu não tenha alcançado a interpretação global dos poemas de Giselle e Joe, mas, em princípio, me pareceu isso.
Abraços.

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