O excesso de luz cega a vista.
O excesso de som ensurdece o ouvido.
Condimentos em demais estragam o gosto.
O ímpeto das paixões perturba o coração.
A cobiça do impossível destrói a ética.
Por isso, o sábio em sua alma
Determina a medida de cada coisa.
Todas as coisas visíveis lhe são apenas
Setas que apontam para o Invisível.
(Tao-Te King, Lao-Tsé)
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Frio
Acordei cinza.
Dentro de casa
Um ar branco
Paira no teto.
Tiro a pressão
― Pálida.
Sorvo uma sopa
Transparente.
...
Sobre o meu corpo
O pelo
Antigo
De fracos
Animais...
Sobre os meus olhos
O mármore
Moldando
Os sonhos
De Miguel...
*
A boca expele um último insulto
Antes
da vinda
da noite...
RODRIGO DELLA SANTINA
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Sofro ao infinito com a discussão das pedras e da chuva
1.
Sofro ao infinito com a discussão das pedras e da chuva.
Toda a natureza em meu redor se deforma
se altera
se completa
Todos os animais se justificam na própria existência
― passada ou presente
(e até futura).
A terra, o sol, a lua, as estrelas,
Todas as coisas se conformam no meu pesar
Todos os homens dialogam na minha alma
E o vento
[que se imagina pacificador]
Eleva
O fogo
E varre
As cinzas...
2.
Tenho a alma delicada.
3.
(Faz alguns meses eu vi um tigre. Seu corpo se estendia ao infinito. Sua pele era de um laranja fulgurante. Suas listras, diferentes e iguais entre si, pareciam conter algum segredo, linguístico, atemporal. Como o de Pandora).
4.
Nunca me recuperei dessa visão.
5.
Agora estou no meu quarto escrevendo para as traças
Ouvindo a chuva arguir com as pedras uma canção sem data
Como uma partida de xadrez empoeirada.
E estou em xeque de mim mesmo.
RODRIGO DELLA SANTINA
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Diálogo Poético: Naldo Velho e Ianê Mello
QUANDO ELES VIEREM VIVER ENTRE NÓS
Quando os que moram
nas montanhas da lua
nascerem por aqui,
um anjo nos mostrará
que toda mulher é sagrada,
ainda que não seja santa,
e dizer o contrário será pecado.
Quando eles nascerem entre nós,
não haverá cor ou o idioma,
se palestinos ou judeus,
serão sempre filhos de Deus!
e se sentarão a mesma mesa
para orar e conversar.
Quando eles vierem
viver entre nós,
não haverá mais a dor
do Cristo crucificado,
nem fronteiras que impeçam,
pois só então teremos conseguido
compreender o real significado
da palavra lar.
Naldo Velho
SERES CELESTIAIS
Anjos sem asas
pousarão sobre a terra
Seres iluminados, divinos
nos trarão paz e conforto
O mundo, então, será mais belo
a igualdade e a paz reinará
todos seremos irmãos
Desejo que se realizará
aquietando nossas almas
aquecendo nossos corações
e o sonho tão sonhado
se tornará realidade
Ianê Mello
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Diálogo Poético Orlando Costa Filho e Ianê Mello
MERCADO DO PORTO (Um cego canta até arrebentar)
manhã cinzenta
como chove nessa ausência de vento!
o mercado é encardido fétido
peixes quase podres, o hálito
das entranhas dos homens odres
suores de três dias no sovaco da camisa e
manchas amarelas - estampa na cueca.
a cachaça é farta até o próximo salário a
nicotina impregna nas artroses entre os dedos.
manhã marrenta
porre e falta de argumento!
nas calçadas e prédios antiestéticos
meus olhos subjetivos esmiúçam cálidos
as faces que expressam a síndrome do enxofre
sem trégua, a mão que o alisar desconhece intriga o
verbo inexistente num dia de merda.
o modo é indicativo o tempo presente tudo necessário para a
força de escape fazer-me fugir do degredo.
manhã sonolenta
por dentro da estufa do dia chovendo!
lava as mãos imóveis dos santos de tédio
reflete a angústia de olhares infantis pálidos
nas cordas de aço que vibram ganem sofrem as
almas são ostras herméticas, nas torres
toda a esperança de um cheque mate forever.
ver a serpente fugir do canário e
a poesia domar esse coração-torpedo.
*subtítulo: verso da canção A Página do Relâmpago Elétrico, by Beto Guedes & Ronaldo Bastos
Orlando Costa Filho
Crédito de Imagem: Caspar David Friedric
PARCA MANHÃ
...e na manhã cinzenta e pálida
versos que perpassam o tempo gélido
cores esmaecidas encharcam olhos
frio que enrijece a espinha
densa corda a amarrar sentidos
estremecidos em suores que afloram
pobre manhã de sabores ocres
azedume e olores enchem o ar
de solidões cansadas e eternas
macerados sentimentos no acomodado
e o mais é silêncio e dor
na aspereza de seres que se perdem
em seus rostos marcas de uma vida
em seus olhos pontes de saudades
em seus corpos desejos inconfessos...
Ianê Mello
Crédito de Imagem: Andrew Wyeth
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Mensagem de Natal
Que este Natal seja farto
em sorrisos, em abraços, em amor
Que esse Natal seja simples
como simples são os sentimentos
Que esse Natal seja terno
com a ternura das crianças que sonham
Que esse Natal seja doce
como doce é o cálice de vinho que sorvemos
Que esse Natal seja pleno
em vida, em esperança, em calor humano.
Quero agradecer a cada um de vocês que aqui esteve desde o nascimento desse espaço, uns como visitantes eventuais, outros mais assíduos, outros "seguidores" fiéis.
Agradeço pelo carinho a mim ofertado em suas visitas e comentários, aos seus sinceros elogios, as suas palavras de compreensão.
Sem a presença de vocês esse espaço não continuaria a existir e a crescer de forma harmoniosa e plena.
Obrigada, meus amigos!
Um Natal iluminado à todos vocês e que o novo ano que se inicia seja repleto em paz, esperança e amor.
Um grande beijo e abraço fraterno.
Paz e Luz!
NAMASTÊ!!!
Ianê Mello
sábado, 10 de dezembro de 2011
Diálogo Poético Ianê Mello e Ildo Silva - Haicais
olhar
que voa
pousa no meu
borboleta em flor
Ianê Mello
olhar que voa
pousando nas flores
borboletas
Ildo Silva
borboletas no céu
olhares em flor
pousam livres
Ianê Mello
me perco no ar
borboleta no céu
livre voar
Ildo Silva
amor leve no olhar
asas cor de luz
bailam no céu azul
Ianê Mello
olhei, me perdi
borboletas ensaiam
danças de amor
Ildo Silva
pousa no meu
borboleta em flor
Ianê Mello
olhar que voa
pousando nas flores
borboletas
Ildo Silva
borboletas no céu
olhares em flor
pousam livres
Ianê Mello
me perco no ar
borboleta no céu
livre voar
Ildo Silva
amor leve no olhar
asas cor de luz
bailam no céu azul
Ianê Mello
olhei, me perdi
borboletas ensaiam
danças de amor
Ildo Silva
Dialogo Poético NeyMaria e Ianê Mello
CHUVA TEM CHEIRO
Emarranhados
ramos no rumo
de um vento
que arrasta e ronca,
uma vez sacudidos,
vergados
diante de som
tão agudo,
gemendo
soltaram-se,
galho por galho,
abrindo alas ao avanço
de espesso véu
de tramas d'água.
Enegrecida,
a rua
se encheu do cheiro
da chuva
rolando d'alto
abaixo.
Entrechocaram-se
as vidraças; bateram,
bateram,
cômodo adentro
berraram...
trancaram-nas aquele
seco silêncio
da sala.
NeyMaria Menezes
ramos no rumo
de um vento
que arrasta e ronca,
uma vez sacudidos,
vergados
diante de som
tão agudo,
gemendo
soltaram-se,
galho por galho,
abrindo alas ao avanço
de espesso véu
de tramas d'água.
Enegrecida,
a rua
se encheu do cheiro
da chuva
rolando d'alto
abaixo.
Entrechocaram-se
as vidraças; bateram,
bateram,
cômodo adentro
berraram...
trancaram-nas aquele
seco silêncio
da sala.
NeyMaria Menezes
Crédito de Imagem: Anka Zhuravleva
POÇAS D'ÁGUA
silêncio seco
pelas lágrimas transborda
contidas e resolutas
rolando pela face
inundando o chão
em poças d'água
vertendo sonhos
ilusões consentidas
ressentidos temores
medos, gritos
calados
na garganta
soltos no ar
como pássaros esvoaçantes
libertos em asas
vôos que convergem
infinitos que desvendam
Ianê Mello
Crédito de Imagem: Anka Zhuravleva
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Diálogo Poético Naldo Velho e Ianê Mello
NÃO QUERO
Não quero a letra fria,
mal intencionada e perversa
a promiscuir-se em meus versos,
pois a ela só interessa
destruir minha emoção;
tão pouco a rima obscura,
corrompida e grosseira,
a envenenar meus poemas
e a acasalar-se obscena
às lembranças, histórias,
guardados...
Não quero a imagem obtusa
a poluir minha saudade
com racionalismos, verdades,
deixando-me os sonhos
reclusos na desilusão.
Prefiro chorar meus poemas,
em versos que sejam de chuva,
ou então de incertezas de planos,
de notas demenciadas de um piano,
de caminhos por ruas incertas,
madrugadas inteiras de insônia,
pois só assim eu me vejo completo
e mantenho acesa a chama
que existe em meu coração.
Naldo Velho
ENREDANDO VERSOS
Ah, versos que caem
em gotas de chuva
versos que se esvaem
em lágrimas contidas
em folhas nuas
brancas e sem vida
em palavras cruas
Ah, versos que se nutrem
de dores e de amores
Versos que fluem
transbordando em cores
Ah, versos que são puros
que transpõem muros
Versos que se quedam
Versos que se enredam
Crédito de Imagem: Foto de Cartier Bresson
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Verso branco
Eu quase não via o verso dele.
A rima era frágil, a métrica
Insegura.
Mas a sua poesia não carecia de plateia.
Era invisível como a pedra.
RODRIGO DELLA SANTINA
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Diálogo Poético - Carmen Silvia Presotto e Ianê Mello
Sujo a mão no tempo
e juntos seguimos
completando vazios
juntos somos,
dias a mais poesia
e juntos seguimos
completando vazios
juntos somos,
dias a mais poesia
compondo sentires
nossas vozes
contidas
em silêncios vazios
se façam ouvir
em madrugadas insones
em versos
que conversam.
em silêncios vazios
se façam ouvir
em madrugadas insones
em versos
que conversam.
Carmen Silvia Presotto e Ianê Mello
Diálogo Poético - Amy Chauvin Mil-Homens e Ianê Mello
Por minhas ladeiras abaixo...
Se no meu interior fosse verão
não me importaria com essa tempestade
que desagua hoje em mim
Porém, ela vem densa, vem tensa…
A umedecer minhas planícies,
meus solos férteis,
a desbravar meus mistérios contraditórios
e verbos in(vertidos)…
Precipita-se tal qual uma avalanche
ousada e urgente
a sorrir da moldura que faz em minha anatomia...
Então, deixo-me decifrar
em arrepios de cala(frio) dessa gélida e inexplicável
úmida sublimidade…
Amy Chauvin Mil-Homens
Se no meu interior fosse verão
não me importaria com essa tempestade
que desagua hoje em mim
Porém, ela vem densa, vem tensa…
A umedecer minhas planícies,
meus solos férteis,
a desbravar meus mistérios contraditórios
e verbos in(vertidos)…
Precipita-se tal qual uma avalanche
ousada e urgente
a sorrir da moldura que faz em minha anatomia...
Então, deixo-me decifrar
em arrepios de cala(frio) dessa gélida e inexplicável
úmida sublimidade…
Amy Chauvin Mil-Homens
Sem molduras
Palavras da alma
lavam o corpo
em águas profundas...
mergulho no ser...
pulsar de emoções
que desaguam
em mares
em turvas águas
para renascer mais pura
mais limpa
nua...
liberta de amarras
sem molduras
sem limites
lavam o corpo
em águas profundas...
mergulho no ser...
pulsar de emoções
que desaguam
em mares
em turvas águas
para renascer mais pura
mais limpa
nua...
liberta de amarras
sem molduras
sem limites
...
inteira.
Ianê Mello
Sem cessar
Venta lá fora vento sereno
(Eu gosto do vento no meu rosto...).
O silêncio dos grilos o cavalo.
As árvores dançam as acerolas caem.
Aqui dentro um calor abafado
― Todo mundo fala ao mesmo tempo
Todos comem
Todos pulam
Todos gritam
Será que eu vou morrer...?
Ou serei eterno
como a fênix?
RODRIGO DELLA SANTINA
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Diálogo Poético - José Sá e Ianê Mello
Não faz mal...
Dizias-me...
Tantas vontades tuas
Parecias-me...
Em tantas vaidades nuas
Falavas-me da luz solar
Falavas-me do teu luar
Parecias ressuscitar
Parecias o meu cantar
...
Pensei ser verdade
Dizias que tudo era eu
Dizias que nada mais existia
Parecias a luz do céu
Parecias um anjo, assim eu sentia
Pensei que te tinha
Dizias ser eu, o teu perfume
Dizias ser o teu amor
Parecias a voz do meu queixume
Parecias uma linda flor
...
Pensei que eras minha
Dizias ser a felicidade
Dizias que me davas teu coração
Parecias a mão da bondade
Parecias a minha paixão
Pensei... E afinal...
Não passou daí
Palavras que dizias no meu areal
Desabafos teus que eu li
Parecias, somente parecias
Não faz mal...
José Alberto Sá
No amor renascida
Ah, se eu pudesse
voaria ao infinito
com minhas asas de seda
Ah,se eu pudesse
descortinava os medos
e no abismo me lançava
Ah, se eu pudesse
ao amor me renderia
e dentro dele seria um nada
Ah, se eu pudesse
me enlaçaria em braços,
me perderia em abraços,
me perfumaria em rosas,
alecrim e cravo
Ah, se eu pudesse
seria doce como mel
sedosamente floresceria
no jardim encantado
e no amor me reencontraria
Ah, se eu pudesse...
em teu amor renasceria.
Ianê Mello
domingo, 4 de dezembro de 2011
Dialogo Poético - Ianê Mello e Andrea Lizard
Não
demora, vem!
Eu ainda te espero chegar...
vai demorar???
o amor não sabe esperar...
o amor é urgente
ele chama, ele clama
ele grita por você
não me deixe só...
solidão deixa feridas
que não cicatrizam mais
nem mesmo o tempo
nem mesmo a distância
nada importa
nada me impede
de tê-lo comigo
sempre
dentro de mim.
Ianê Mello, inspirado na música O amor não sabe esperar de Hebert Vianna.
SEM HORA
Venha que te quero o tempo todo
Por segundos, por minutos
Assim por mim trocada em miúdos
Venha
Eu te quero aos poucos
Sem relógio no compasso
Em tresvario, clamo devasso
E rouco
Venha agora, sem demora
Eu te quero nove tempos fora
Dias, semanas, meses afora
Agora
Quem sabe compensa o tempo
Das eras ante tempo tão severas
Que não contava os segundos
Nem quimeras
A espera é eternidade
Venha safada ou senhora
Cause toda amenidade
Que melhora
O ponteiro já ecoa a badalada
Paixão que é paixão
Não se atende com hora
Marcada...
Por segundos, por minutos
Assim por mim trocada em miúdos
Venha
Eu te quero aos poucos
Sem relógio no compasso
Em tresvario, clamo devasso
E rouco
Venha agora, sem demora
Eu te quero nove tempos fora
Dias, semanas, meses afora
Agora
Quem sabe compensa o tempo
Das eras ante tempo tão severas
Que não contava os segundos
Nem quimeras
A espera é eternidade
Venha safada ou senhora
Cause toda amenidade
Que melhora
O ponteiro já ecoa a badalada
Paixão que é paixão
Não se atende com hora
Marcada...
Andrea Lizard
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