HOMEM-LOBO
O homem maduro agoniza.
Em suas descobertas arrepiantes,
Pensamentos angustiantes.
Simbologias da solidão.
Solilóquio e ruminação.
E o caos domina, eterniza.
Guerra e redenções de eus,
Fantasia do real,
Signos seus e meus.
Mergulho fatal:
Cego, surdo, mudo
Teatro do absurdo.
Raro e feito para loucos
Anti-herói triste de poucos.
Jogo de espelhos de si
Só nos resta a fantasia:
Viver e aprender a rir.
Andrea Lizarb
Eu queria
Dançar-te a dança dos loucos.
Uivar o som dos lobos em lua cheia.
Levar-te na garupa de meus sonhos
Eu queria
Andrea Lizarb
Um homem solitário caminha no vazio mergulhado na letargia das páginas em branco. Entre vales e montes perde-se o seu destino. Não há nada escrito nas folhas do tempo perdido; e num vôo enlouquecido atravessa as suas dores e pousa no seu caos. Despe a sua loucura e continua só dentro da sua insanidade.
Ydeo Oga
O LOBO DA ESTEPE
Para Herman Hessse
Não faça barulhos surdos
ele dorme o sono dos covardes
não poderá lhe ouvir
enquanto o vento sibila
acalentado nos sonhos
ele aquieta o lobo
que uiva dentro de si
fechados os olhos
animal contido
o pelo já acizentado
por anos vividos
o faro já enfraquecido
para odores mais suaves
os dentes não tão afiados
acostumado ao cativeiro
lá o lobo se esconde
pernas enfraquecidas
para as estepes íngremes
permanece solitário
num mundo que não é o seu
e quando a lua alta no céu brilha
escuta-se, como um lamento,
o seu profundo uivo de dor.
Ianê Mello
O Misantropo (Herman Hesse)
Lobo solitário viajante das estepes frias e longínquas
Misantropo endurecido pelo pós da guerra
Cantor de versos tristes e frementes
Lúgubres são teus dias enfadonhos
Mas que por algum motivo
E que motivo foi envolvido
Dormes com a noite
E sob o sol da manhã renova tuas veias
Vida in cauta
Envolvente literatura romanceada.
Giselle Serejo
Lobo Solitário da Estepe ( Herman Hesse )
Romanceiro da tua própria vida
estranha, solitária, profunda
caucasiano literato feito sangue pulsante
inebriante literatura a tua
queima como o sol da Naníbia
a tua prosa cautelosa
nada fria
Constantino, Rei
nunca me cansei de te ler.
Giselle Serejo
AOS NOSSOS LOBOS
seu martírio
é nossa prisão
o medo do selvagem
ato intuito
impulso livre e natural
na esperança de o deter
o colocamos atrás de uma jaula
escura
mas seu cárcere não nos sacia
do gosto de sangue
da sua carne viva
“a fera está contida
tudo sob controle
não há o que temer!”
gritamos a todo instante
sem convencimento
pois sentimos a força de um olhar
silencioso e manso à nossa espreita
humanidade morta
seu animal vive
atrás da porta
do pensamento
Gustavo Gomes de Matos
Profano e Sagrado
Se ele fosse movido só pelos sentimentos,
Viveria a vida boêmia, amante e sublime,
Se sua não fosse a face aguda da burguesia,
Se a santa vida não fizesse o descrime...
Se ele pudesse trevas e luz misturar,
A dualidade do profano e o sagrado,
A unidade de personas pudesse encontrar,
Se houvesse mil espectros em um unificado...
Seria como os coesos amantes
Sentiria a voragem oculta, transcendente
Que se cala em maridos e fala aos amantes.
Integraria santo e libertino
Esqueceria as razões circunstantes
Seguiria o pólo magnético do destino.
Andrea Lizarb
O LOBO É O HOMEM DO LOBO
manancial úmida
goteja sólida
selvagem natureza.
O lobo engole o homem
sentida angústia
digere aos gritos o que o sofrimento cala;
no vômito, encontro poucas certezas
quem sou diluiu-se no estômago ácido.
O radar avisa:
Limite de velocidade na próxima curva.
-Não posso! Preciso continuar fugindo...
Acabei de atropelar a criança que um dia fui.
O melhor de mim hoje morreu.
Lou Albergaria
Imagem: William Blake
LOBO, LUPUS, LUPO
Lobo, Lupus, Lupo
Caçador e caçado
Sou vários de um todo
Uno e divisível
Solitário e terrível
Lobo, Lupus, Lupo
Do astuto e temível
Restou o arruinado, o carcomido
Da matilha escurraçado
Quase que um morto-vivo
Lobo, Lupus, Lupo
Antes dono da floresta
Líder e andarilho
Percorro agora
A trilha que me resta
Só e maltrapilho
Lobo, Lupus, Lupo
E assim, por essa sina
Uivo à noite para a lua
Prucuro resposta do luar
Para o que fui
O que sou
E o que será
De mim
- Ricardo Daiha -
4 comentários:
O " Profano e Sagrado" se não o mais tentador de todas as tentações é o que mais nós estimula.
Belissímo
Estive me deliciando nesse seu espaço, que ainda não conhecia.
Bjs.
Obrigada, Escarlate e Marilene, pelos comentários.
Bjs.
Excelentes poemas, principalmente os de Andrea Lizarb, Ydeo Oga e Lou Albegaria.
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