O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




domingo, 28 de agosto de 2011

VOZES EM MADRIGAL ( Facebook) - Domingo de Poesia(28.08) - Cora Coralina




DONA CORA

Senhora humilde e poderosa
Com sua simplicidade sem forma
Possuidora da mais alta riqueza
Riqueza essa, de espírito
Linda goyana
Sonhadora
Soberana
Escritora
Menina doce
Doce de mamão
Filha de Jacinta Brandão
Doceira de profissão
Foi poetisa esplendorosa
‘A Rosa’
Do jardim Bela Vista
Até a cidade de Goiânia
Era conhecida como Aninha da Terra
Moça risonha, generosa
Mulher do Povo
Linguaruda e repleta de prosa.

Jana Valentina




CORA CORAL

Cora coral
varal de roupas
vento de maio
ratatá de alpargatas
acordaram Cora
que estava no tacho
corando marmelos

Cora coral
maninho na guerra
Paraguai logo ali
ratatá de fusos
novelos de Cora
que estava na sala
tecendo poemas

Cora coral
tempo de chuva
vento no pasto
ratatá de pingos
a rua adivinha
o café de Cora
adoçando visitas

Cora coral
cadernos de letras
juntas miudinhas
ratatá de fervuras
na aldeia global
os doces de cora
perfumando tudo

Beto Palaio




A casa velha da ponte

Foi na mesma ponte da velha Aninha
que um dia também atravessei
ponte antiga e feliz
às vezes ficava triste e zangada
emburrava e não deixava ninguem passar
mas...era só as vezes...
A ponte velha, da velha trazia os tachos de doces de Aninha
certa vez, uma escrava por nome Isaura deixou o tacho cair
Ahhh, dona Aninha ficou brava
e mandou a escrava sumir dalí
Aninha, docinha malvada...
pensou a danada da escrava.

Giselle Serejo



Cora, teu nome é doce.

A casa da ponte também foi minha morada nos tempos que eu era velha
quando fiquei criança, andei por outras terras
brilhantes, cansadas.
Hoje, quando me lembro de ti fazedora dos melhores doces
riu de mim
que nada sabia fazer e velha já estava em mim
Coralina, minha filha amada
vai lá fora e vê se vem chuva?
era assim que dizia sua madrasta.
Esquecida num canto Dona aninha ficava observando os senãos.
Aqui no meu fico lembrando do anjo.

Giselle Serejo




 CORA MENINA 

Cora, Cora, Coralina
por dentro sempre menina
em seu sorriso a  candura
em seus atos a bravura
da interiorana mulher
Com suas mãos preparava
os docinhos mais gostosos
e com as mesmas compunha
os versos mais primorosos
Mexendo o doce no tacho
escrevendo em seu caderno
sua grande sabedoria
na simplicidade se revelava
na mulher de doces olhos
que a todos encantava.

Ianê Mello

CORA Coração

Ah, pequenina flor
Perfume de rara beleza
Dos cerrados goianos
Veste a simplicidade
Do viver e do querer
Dentro de nós!

Ydeo Oga

Cora Coralina


Mulher
menina, goiana
alma de poeta, de poesia
soube ser
mesmo na adversidade
mesmo cerceada em tudo
não perdeu a sua essência de mulher
sua sensibilidade
escreveu sobre cotidiano
sobre as suas agruras
com uma integridade
que encanta
menina, mulher
Cora, coragem, Coralina

Enice de Faria



Velho é o mundo

Em sua fremosura
sem posta
ia andando a vida
com leveza
pureza de água da bica
Canções de ninar assobiava
não ligava, como eu, para inquietações efemêras
prosseguia na lida
cantarolando o doce
Às vezes se ficava canto
se isolava brevemente
cheia de gente invisível
curtia sua freguesia
Passava...
E..depois das horas ignotas
dava o doce
enviava tachos cheios de amores
As dores deixava para depois
Cora, Lina, Aninha, nova.

Giselle Serejo

sábado, 27 de agosto de 2011

SÁBADO POÉTICO ( 27.08.11) - Livre criar é só criar (facebook)






HOMEM-LOBO

O homem maduro agoniza.

Em suas descobertas arrepiantes, 
Pensamentos angustiantes. 
Simbologias da solidão. 
Solilóquio e ruminação.

E o caos domina, eterniza. 
Guerra e redenções de eus,
Fantasia do real,
Signos seus e meus.

Mergulho fatal:
Cego, surdo, mudo
Teatro do absurdo.
Raro e feito para loucos

Anti-herói triste de poucos.
Jogo de espelhos de si
Só nos resta a fantasia:
Viver e aprender a rir.

Andrea Lizarb

Eu queria
Dançar-te a dança dos loucos.
Uivar o som dos lobos em lua cheia.
Levar-te na garupa de meus sonhos
Eu queria

Andrea Lizarb



Um homem solitário caminha no vazio mergulhado na letargia das páginas em branco. Entre vales e montes perde-se o seu destino. Não há nada escrito nas folhas do tempo perdido; e num vôo enlouquecido atravessa as suas dores e pousa no seu caos. Despe a sua loucura e continua só dentro da sua insanidade.

Ydeo Oga



O LOBO DA ESTEPE

Para Herman Hessse

Não faça barulhos surdos
ele dorme o sono dos covardes
não poderá lhe ouvir
enquanto  o vento sibila
acalentado nos sonhos
ele aquieta o lobo
que uiva dentro de si
fechados os olhos
animal contido
o pelo já acizentado
por anos vividos
o faro já enfraquecido
para odores mais suaves
os dentes não tão afiados
acostumado ao cativeiro
lá o lobo se esconde
pernas enfraquecidas
 para  as estepes íngremes
permanece solitário
num mundo que não é o seu
e quando a lua alta  no céu brilha
escuta-se, como um lamento, 
o seu profundo uivo de dor.

Ianê Mello



O Misantropo (Herman Hesse)



Lobo solitário viajante das estepes frias e longínquas
Misantropo endurecido pelo pós da guerra
Cantor de versos tristes e frementes
Lúgubres são teus dias enfadonhos
Mas que por algum motivo
E que motivo foi envolvido
Dormes com a noite
E sob o sol da manhã renova tuas veias
Vida in cauta
Envolvente literatura romanceada.

Giselle Serejo




Lobo Solitário da Estepe ( Herman Hesse )

Romanceiro da tua própria vida
estranha, solitária, profunda
caucasiano literato feito sangue pulsante
inebriante literatura a tua
queima como o sol da Naníbia
a tua prosa cautelosa
nada fria
Constantino, Rei
nunca me cansei de te ler.

Giselle Serejo





AOS NOSSOS LOBOS

seu martírio
é nossa prisão
o medo do selvagem
ato intuito
impulso livre e natural

na esperança de o deter
o colocamos atrás de uma jaula
escura
mas seu cárcere não nos sacia
do gosto de sangue
da sua carne viva

“a fera está contida
tudo sob controle
não há o que temer!”
gritamos a todo instante
sem convencimento
pois sentimos a força de um olhar
silencioso e manso à nossa espreita

humanidade morta
seu animal vive
atrás da porta
do pensamento

Gustavo Gomes de Matos



Profano e Sagrado

Se ele fosse movido só pelos sentimentos,
Viveria a vida boêmia, amante e sublime,
Se sua não fosse a face aguda da burguesia,
Se a santa vida não fizesse o descrime...

Se ele pudesse trevas e luz misturar,
A dualidade do profano e o sagrado,
A unidade de personas pudesse encontrar,
Se houvesse mil espectros em um unificado...

Seria como os coesos amantes 
Sentiria a voragem oculta, transcendente
Que se cala em maridos e fala aos amantes.

Integraria santo e libertino 
Esqueceria as razões circunstantes
Seguiria o pólo magnético do destino.


Andrea Lizarb








O LOBO É O HOMEM DO LOBO



Vida esponjosa
manancial úmida
goteja sólida
selvagem natureza.
O lobo engole o homem
sentida angústia


digere aos gritos o que o sofrimento cala;


no vômito, encontro poucas certezas


quem sou diluiu-se no estômago ácido.


O radar avisa:

Limite de velocidade na próxima curva.


-Não posso! Preciso continuar fugindo...

Acabei de atropelar a criança que um dia fui.

O melhor de mim hoje morreu.





Lou Albergaria





Imagem: William Blake







LOBO, LUPUS, LUPO

Lobo, Lupus, Lupo
Caçador e caçado
Sou vários de um todo
Uno e divisível
Solitário e terrível

Lobo, Lupus, Lupo
Do astuto e temível
Restou o arruinado, o carcomido
Da matilha escurraçado
Quase que um morto-vivo

Lobo, Lupus, Lupo
Antes dono da floresta
Líder e andarilho
Percorro agora
A trilha que me resta
Só e maltrapilho

Lobo, Lupus, Lupo
E assim, por essa sina
Uivo à noite para a lua
Prucuro resposta do luar
Para o que fui
O que sou
E o que será
De mim

- Ricardo Daiha -



sexta-feira, 26 de agosto de 2011

VOZES EM MADRIGAL (Facebook) - A arte da palavra

A arte da Palavra em todas suas nuances





DRUMMOND

Tu és a palavra dita
bendita
composta
disposta
Homem-I
fininho
encantado.

Giselle Serejo



Dialogando com Drummond.

Eu sou a senha do mundo
A PALAVRA
É nela que me discuto
É por ela que morro e renasço
Não há como desen canta-la
Não há
Ela já veio enfeitiçada
Quando não estou
Ela me encontra
Nós nos esbarramos
Somos amigas, companheiras.
Mulheres para vida inteira.

Giselle Serejo




Ao mestre com carinho...

o homem da palavra exata
farta, curtida no tutu
arroz, couve e farinha
sua palavra, um banquete
manjar de ironias
o mestre das letras
também um mestre de orgias

o amor natural

deita a palavra no leito
tirando-a do estado de dicionário
transpira os sentidos na carne
quem nasceu DRUMMOND não morre jamais!

Lou Albergaria



LOUCOS POETAS

Para Mario Quintana

Profundas nossas palavras
que gotejam emoção
como se fossem lavas
de um vulcão em erupção
Viscerais e pungentes
arrancadas de nossa alma
Sentimentos tão urgentes
que necessitam de expressão
e não ponderam a calma
O papel é o veículo
para nossa exortação
O instrumento precípuo
à nossa liberação
Súplicas podem ser
e urgem serem ouvidas
a quem as quiser ler
para que sejam sentidas
Gritam eloquentemente
saltando aos olhos de quem lê
Não há de ser mansamente
que expressaremos o sofrer
Seremos por isso dementes
estando sempre a mercê
de críticas incoerentes?

Nos sabemos loucos
como bem disse Quintana
Nos importarmos pra quê?
Se nossa mente é insana,
a lucidez ... é pra poucos

Ianê Mello



Palavras e homens dentro de palavras-homens

Não há distinção entre elas e mim!
Entre o que sou e o que são...
Juntos SOMOS...
Elas são a extensão de mim 
E eu (homem) sou o que lhes da vida!
O que as tira do país inanimado
Para o país dos sonhos, das fantasias ...
Não existe eu sem elas
E elas tampouco existiriam sem mim
Sou homem, poeta...
E elas são o que me fazem ser o que sou...
Elas são palavras, poesias, versos
E eu poeta (homem – porque o homem é poeta)
As faço ser o que são!
Isso já nos cumpre o dever da vida...
Eu poeta e elas Palavras...
Formamos e “desformamos” mundos
Criamos e recriamos pessoas!
SOMOS dentro do MUNDO,
Porque andamos Um com o OUTRO.
Isso é a PALAVRA!


Vanessa Vieira



palavras

no contexto
somente o começo
sem pretexto

na página
de um texto
sem margem qualquer

no limite
de uma letra contínua
e numa vertente
de linhas transparentes

apenas o sabor
das palavras

ydeo oga


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