O MITO DE CARONTE: O BARQUEIRO DA MORTE
O velho barqueiro moribundo das antigas eras
Navegava à espera de algumas almas ignotas
Pois não era que o defunto
Tinha que viajar junto com seu óbolo
Senão o arquétipo da morte, com sua fúria indecente.
Não tinha dó do dormente
Deixava-o no Limbo
A espera do seu último gemido oco
Mas para o bem da mesquinhez dele
Os visitantes da barca
Iam sempre de boca fechada
Com a moeda debaixo da língua
E assim pagavam sua passagem finda.
Giselle Serejo
A TRAVESSIA
Delírio...
sangue a fervilhar
nas veias
quente
olhos esbugalhados
pelo medo deformados
pele num arrepio
fria
na boca
o grito mudo
de espanto
o corpo paralisado
enrijecido
congelado
limiar do medo
iminência da morte
previsão
presciência
fugacidade das horas
transitoriedade da vida
a travessia é inevitável.
Ianê Mello
HÁ VIDA ALÉM DA PONTE
no epitáfio de cada um
descobrimos o trecho de chão
do porão úmido e lúbugre
na terra fétida do beco
Ali no gradil onde todos jogam
lixo urbano descompactado
encontramos até a caveira
de um cavalo muito descarnada
é a vida com suas inquisições
uma tolice para os moradores
imaginarem um teorema qualquer
para matemáticos decifrarem
em um campo de batalha
barcos carregados de elefantes
leões atravessando à nado
literatura inventada em ilíadas
para guerreiros incansáveis
a carne celestial em oferta
com árvores cerejando frutos
de macieiras limpas de nós
do lado de lá em pó-de-arroz
espargido por um anjo nosso
de guarda aos fatídicos tempos
onde somos negados e renegados
com tanta porta fechada aos eus
que chegam apinhando barcos
de ninguém morrer na véspera.
Beto Palaio
Caronte : Barqueiro do Inferno
Duas moedas de ouro
Nos olhos ei de dispor
Na morte tranquila
No Aqueronte
Com o barqueiro navegar
A quem as moedas
Não pudesse pagar
Caronte negava
Por cem anos passar
Os vivos temiam
Tormentos dos mortos
A Caronte pagavam
Sem ao menos exitar
Velho sempre a navegar
Almas a carregar
Vivos jamais
Poderia transportar
De pose de um Ramo Ouro
Consagrado por Proserpina
Mortais o Aqueronte
Podiam com Carronte navegar
Sem o ramo por um ano
Caronte foi punido
A Hércules vivo mortal
ter transportado
Assim era vida Imortal
Do velho de vestes negras
Forte e magro
Barqueiro do Inferno
Ildo Silva
Entre cruzes e almas um barqueiro enfrenta a escuridão das trevas para incendiar seu caminho de seres parasitas que corroem tuas entranhas num sacrifício de fogo.
Ydeo Oga
MAR DE CARONTE
Triste e melancólico
Perdido no Mar de Caronte
Lá, tu te escondes.
Em um mundo de agonia
Mundo desconhecido
Esperança que corre
Triste e frio
É somente estrada deserta
O fim não se sabe
Nos teus olhos escondes a saudade
De um mundo imaginário
Trágico e negro
No silencioso Mar de Caronte
O inferno se faz presente
Acorrentado te vejo
Enraizado de versos e medos
Jana Valentina
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