O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




quarta-feira, 24 de novembro de 2010

TARDE PARA PEIXES



Estamos nesse aquário
de uma grande cidade
como num viveiro tangível
para o habitar naufragado
dos carros que são massas
de peixes em procissão
mescla de quadras submersas
razão de sobra para fugir
em cardumes dispersos

Peixes que sobem ladeiras
Livres numa rede invisível
Cruzam pontes em longas filas
Decididamente infundadas
Seguindo o rumo dos recifes
Além do ronronar de motores
Aflitos com a solidão repartida
São peixes que refletem aquém
Ágeis soluços de pára-brisas

O homem mora dentro do peixe
Conformado numa calma lírica
O tocar monótono de buzinas
Nem os incomodam de fato
Na mansão de metais piscosos
Se lhes secam a alma o enlatar
Onde em anchovas se tornam
Múmias inermes à competirem
Com o afogar solitário das horas


Beto Palaio

4 comentários:

Ianê Mello disse...

Nós somos peixes, peixes fora do infinito mar, aprisionados em aquários.

Lindo !

Beijo, mo.

Samuel F. Pimenta disse...

Óptima analogia, a ideia de sermos peixes que vivem em cardume.

Tudo de bom,

Samuel Pimenta.

Beto Palaio disse...

Grato, anjinho

Valquíria Calado disse...

A visão do que somos, muda e transformasse conforme nosso tamanho dentro do que estamos, e no habitar a qual pertencemo, beijinhos amiga.

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